quinta-feira, 30 de setembro de 2021

 Memórias da Freguesia do Rego:

Profissões, dos Artesãos do Rego e outros.

                     Profissões
Conheci várias profissões na freguesia do Rego: carpinteiro, ferreiro, azeiteiro, alfaiate, barbeiro, colmador, croceiro e croceira, guardassoleiro, sapateiro, funileiro, ferrador, mineiro, sardinheira, tamanqueiro, costureira, tecedeira, bordadeira, fiandeira de lâ e linho, oveira, farrapeira e bicheira.
Estas são algumas das profissões que me lembro. Vou descrever algumas das profissões citadas, exercidas pelos meus conterrâneos e por alguns meus familiares.

As profissões que  não existiam na freguesia, os artífices vinham de outras freguesias, fazer os trabalhos em que eram especializados, como pedreiro,capador, e vendedores de bens de consumo, como o caso do azeiteiro, que vinha de longe para ali fazer o seu negócio e tinha muitos fregueses, porque vendia toda a mercadoria fiada.

1.     Pedreiro
Os Pedreiros, conhecidos pelos lobos de Montim, por morarem naquela localidade, trabalhavam com qualquer tipo de pedra, alvenaria, propianho de palmo e torno,propianho de palmo e meio, também lavravam a pedra e gravavam.
Grandes artistas! 

Faziam os engenhos em pedra, para as poças de Consortes, funcionarem durante os meses de inverno, sem intervenção dos Consortes
As poças, quando estavam cheias, automaticamente abriam o tufe para despejar a água e quando estavam vazias, tapavam o tufe (a) automaticamente,para encher novamente.

Eram aqueles pedreiros que construíam as casas e muros. Foram eles que construíram os jazigos antigos de pedra, do cemitério do Rego.

Vi aqueles pedreiros fazerem o muro de suporte da poça das lebandeiras, foi feito quando era presidente da Junta de freguesia, o pai do Abel Pimenta, de Bolada, o filho Abel, também veio a ser presidente da Junta, no anterior regime.
Aqueles pedreiros, gravaram a data numa grande pedra do muro, o ano de 1939,como se podia confirmar.
                                                    Poça da lebandeira

Naquela época, foi um grande melhoramento para a freguesia do Rego e até para outras freguesias, porque era o principal caminho, que ligava Borba da Montanha e Carvalho, lugares da Costinha, Seixosas, Bolada e Perraço, por ali passavam muitas pessoas, quando iam para a feira da Lameira e também o povo quando ia para a missa e funerais, e tinham que passar na poça, por o meio da águaquando a poça estava cheia, 

                                             Lugar da Costinha
Aquele antigo caminho
foi substituido pela actual estrada, que liga o lugar da Costinha ao lugar de Vilaboa e o antigo muro de pedra, onde estava gravada, aquela data, 1939, foi soterrado naquele alargamento. 
Os autarcas que estavam na junta de freguesia do Rego, na data daquela construção e responsaveis por aquela obra, em vez de perdurar aquela importante memória,, colocando aquela grande pedra, com aquela data gravada, no actual muro de suporte. Enterraram-na. 
Apagaram aquela memória! Desculpem o meu desabafo. Tiveram uma visão muito tacanha!

2.     Capador
O capador vinha nos dias da feira da Lameira e Carvalho, percorria os lugares à procura dos fregueses, marcava a sua presença, com o toque duma gaita, com uma melodia já bem conhecida dos caseiros e lavradores, que ao toque daquela gaita, o contatavam para ele lhes prestar os serviços que necessitavam, capar, porcos, touros, gado cavalar, etc... 

3.     Azeiteiro
O azeiteiro vinha de longe e trazia mercadoria muito variada, como: azeite, petróleo, sabão, vinagre, azeitonas, entre outros.
A mercadoria era transportada numa mula, com uma albarda apropriada, para transportar as mercadorias, tinha de cada lado uns moldes para enfiar os cântaros que tinham os líquidos, um pequeno pipo e uma caixa, para o sabão e outras mercadorias.

                         Com a devida vénia do Autor.
Cada vasilha tinha no fundo uma torneira para tirar os líquidos, que eram medidos desde o quarteirão até à canada.
Aquelas medidas: quarteirão, meio quartilho, um quartilho, meia canada ou dois quartilhos e uma canada ou quatro quartilhos, vinham penduradas nos ganchos da albarda.
                                                 Com a devida vénia do Autor. 
                Em Lisboa, o Azeiteiro também fazia vendas ao domicilio.

Era no tempo, em que na bolsa dos pobres só existiam moedas de meio tostão, tostão, dois tostões e cinco tostões, também conhecidos por uma “croua”[1] e dez tostões ou um escudo, ou mil reis, que na bolsa dos pobres eram muito poucas.

Estas correspondiam à jorna paga aos jornaleiros quando conseguiam trabalho. O homem ganhava duas “crouas” e a mulher uma “croua”, só mais tarde é que a jorna passou para três “crouas” para o homem e duas “crouas” para a mulher.

As outras moedas (de prata) 2$50, 5$00 e 10$00, também chamadas de dois mil e quinhentos reis, cinco mil reis e dez mil reis, eram raras na mão do pobre.

Ouvi muitas vezes a minha mãe a regatear o preço, conforme a mercadoria, oferecia sete e meio (tostão e meio), um cruzado (quatro tostões) e um quartinho (doze tostões), porque a mercadoria para a libra (nove “crouas”) já eram negócios dos grossistas.


Com a devida vénia do Autor. 

As pessoas idosas, ainda falavam em reais
, quando vendiam os animais ou compravam as mercadorias! Regateavam os preços. Diziam; Não dou mais nem um real!  Isto só acontecia com dinheiro na mão. Não era nos fiados.
O azeiteiro fazia concorrência ao Zé/dalém, porque vendia mais barato, e fiava a mercadoria. Os fregueses pagavam um mês e ficavam a dever o outro. 

Artífices da freguesia do Rego:

Algumas profissões passaram de pais para filhos, durante gerações.

    1.     Alfaiate 
O alfaiate, cujo nome não me recordo, era de Pedroso. Morava junto à casa do Sr. Casemirinho da Venda, e tinha um defeito na cara, por isso, era conhecido pela alcunha de “Cara torta”, peço desculpa aos familiares, por não mencionar o seu nome, mas era assim que era conhecido e, como tal, o seu nome próprio não era tão divulgado.

Quando fui servir para a casa do Albino do Alves, na Lameira, no fim do ano recebi a soldada, que era de 50$00 por ano. Foi o preço que o meu pai ajustou com o patrão, pagamento de 50$00 pago no fim do ano e os deveres durante o ano.
O meu pai foi comigo àquele alfaiate e mandou fazer umas calças e um jaleque de cotim, para eu vestir ao domingo quando fosse à missa ou a alguma festa.

Aquele alfaiate, ao domingo, quando ia à missa, levava a roupa para a igreja, embrulhada numa grande toalha, fatos, calças e outras peças, para tirar a prova aos fregueses ou para entregar aos fregueses, a obra que já estava feita.  

Actualmente, ainda existe na freguesia do Rego, a profissão de alfaiate, que é exercida, pelo meu parente e antigo companheiro de escola, João Batista Lopes Vaz,  a quem mandei fazer alguns fatos depois do 25 de Abril e visito-o quando vou à aldeia.

Recentemente tive conhecimento, (09/12/13) que o  meu amigo alfaiate, João Baptista Lopes Vaz, está bastante doente e com uma doença muito grave.





O mestre alfaiate, João Baptista Lopes Vaz, na oficina onde confecciona os fatos e outros trabalhos de costura.

  
Dois videos da minha autoria, que devem ver

   2.   Barbeiro

Na freguesia do Rego, existiam vários barbeiros e que prestavam os seus serviços ao domicílio e nos locais onde os fregueses estivessem a trabalhar.

Ao sábado iam ao encontro dos fregueses, se estes não estavam em casa, iam procura-los ao campo, ao monte, à sorte, à bouça, ao lameiro, etc...
Ali se improvisava a barbearia e cortavam o cabelo e a barba.

No centro do lugar, cada barbeiro tinha a “sua” barbearia para atender os clientes que não andavam nas lidas da lavoura, ou que quisessem ser atendidos na barbearia, que eram e ainda são preciosas relíquiasTrabalhavam ao  sabado e ao domingo.

Os barbeiros eram pagos ao ano e por maquia de miho.
Lavradores e caseiros ajustavam com o barbeiro as medidas de milho a pagar no São Miguel, que iam de quarto à rasa, conforme o número de pessoas de cada casa, em que os criados de servir eram incluídos.

Esta foi uma das artes, que foi passando de pais para filhos.

Ainda há bem pouco tempo, existia uma barbearia no lugar de Vilaboa, na entrada da casa do Maioto, caseiro do  lavrador Marialves e que só encerrou quando morreu o último filho do Maioto, que granjeava as terras e habitava aquela casa. Os pais dele eram caseiros do Marialves e alguns filhos do Maioto continuaram como caseiros.

Assim, desapareceu a velhinha barbearia de antigamente, onde os meus conterrâneos iam cortar o cabelo e desfazer a barba, mesmo os pequenos industriais, como se pode ver o industrial, meu amigo António Nunes, sentado na cadeira a receber os serviços daquele barbeiro.
O mestre barbeiro, Sr. António Dias é surdo-mudo, mas entendia muito bem os clientes na preferência do corte do cabelo.
O corte de cabelo era todo feito à tesoura e pente.

Um artista muito perfeito, como se pode ver nos filmes abaixo publicados.

Quando ia passar férias à aldeia ou fins de semana, usava os serviços daquela barbearia tradicional, tanto para mim como para os meus filhos.





Videos da autoria de Ambrósio Lopes Vaz (3) 



   3.   Carpinteiros

Conheci, o Sr. Narciso Alves Ferreira e o filho Manuel Alves Ferreira, do lugar de Vila Boa e o Sr. Joaquim Rija que morava no lugar da Ponte, mas havia outros.

Aqueles carpinteiros tradicionais, faziam todo o tipo de utensílios: rurais, arado, cambão, carros, grades, engaços, malhos, caniças, jugos completos, cangas, zorras, etc.

Também faziam todos os móveis para as casas, preguiceiro, camas, mesas, cadeiras, bancos, maceira, escudela, pá de levar as broas ao forno, as coberturas de trabejamento de madeira para as habitações, cortes, moinhos, espigueiros, portas, janelas e cancelas. Tanto faziam novo, como concertavam o velho.

Eram artistas muito completos e moldados à medida daqueles que precisavam dos seus serviços e dos tempos difíceis em que viveram.

Todas as madeiras eram preparadas por eles, fossem de carvalho, castanho ou outras. Os carpinteiros abatiam as árvores, e algumas vezes serravam e talhavam ali mesmo no local: as tábuas, os barrotes, as traves e os cumes, em conformidade com a necessidade dos trabalhos que iam executar.

Todo aquele trabalho era feito à mão. Não havia máquinas. Por vezes trabalhavam ao dia, de sol a sol, na casa dos lavradores. 

Levavam as ferramentas dentro duma grande ceira e ainda uma maleta de madeira, onde ia o trado, os formões, o mascoto, a enxó, a plaina e outras ferramentas necessárias.

Lá caminhavam ao amanhecer ou em plena noite, por aqueles canelhos e caminhos horríveis, sujeitos a caírem nos precipícios que os rodeavam.
A vida era dura…
Era o tempo de escravidão. Aqueles mestres carpinteiros, foram uns heróis!

                                            Com a devida vénia do Autor

4.   Sapateiro
Naquele tempo conheci o Sr. António Sapateiro, que morava no caminho que ia para os lugares do Rego e Alijó e partia da antiga escola e era a primeira casa do lado direito, logo á entrada, tinha duas casas, a do lado esquerdo, era a casa do Sr. Serafim Galego.
                                        Com a devida vénia do Autor

O Sr. António Sapateiro, fazia sapatos, botas, chuzes e chinelos, para todas as medidas e feitios, cosidos com o melhor fio, que havia naquela altura, e ainda juntava ao fio de sediela, cedas do lombo dos porcos. 
Aquelas confecções de calçado novo, eram feitas a partir da pele, que o sapateiro sr. António, comprava para a confeção.

                                                        Com a devida vénia do Autor

A maior parte do trabalho, eram concertos, porque fazer novo, era algo só para aqueles, que tinham dinheiro,  lavradores e pessoas com posses.
Naqueles trabalhos, fazer  novo e consertar velho, ensinou o filho Álvaro, que seguiu a profissão do pai e ainda hoje a exerce na casa onde mora, no lugar da Costinha. 

    5. Funileiro
O funileiro era o Senhor António Rija, pertencia à família dos Rijas, morava à entrada do caminho que ia para o lugar do Roboredo, que hoje está desabitado e, por isso, aquele lugar do Reboredo, foi riscado do mapa da freguesia

Aquele funileiro era um grande artista,  fazia todas as medidas de líquidos, desde a medida mais pequena, o quarteirão, até ao cântaro, e grandes bacias para se tomar banho, cocos, lampiões, tigelas, candeias, almontarias, regadores, funis e outros utensílios que podem confirmar na foto embaixo.
Todos aqueles artigos eram confecionados em folha zincada e soldados com solda de estanho. Naquela época, ainda não havia o alumínio e o plástico, aqueles novos materiais quando apareceram, vieram revolucionar tudo, puseram fim à velha profissão dos funileiros.

 O funileiro em plena actividade


   6.    Colmador
No lugar de Vila Boa existiam três colmadores, o Sr. Casimiro Cabanelas, o Sr. Joaquim Pereira e o Sr. Domingos Nunes, no lugar de Alijó, Sr. Abílio Pinga. Também havia um no lugar de Pedroso.  
Quando o Sr. Joaquim Pereira morreu, era o Sr. Domingos Nunes, marido da minha saudosa amiga, Cândida do Nunes, que vinha colmar a casa dos meus pais e outras colmaças que ainda existiam. Ele percebia bem da arte, mas também era amigo de ajudar os pobres, como foi no caso dos meus pais, que os ajudou muita vez.

7.Ferreiro

E Conheci dois ferreiros no lugar de Alijó, os Srs. Domingos Marinho e Serafim Marinho. Aqueles grandes artistas, faziam quase todas as ferramentas para a lavoura: as gadanhas, as foicinhas, os gadanhos, os chavelhões, as baretas para os jugos, as correntes para os cambões, as chapas e as tarraxas para travão dos carros de vacas, as abecas para os arados, a pá de ferro, usada no forno, quando  se cozia o pão, faziam os pregos para pregar as ferragens dos carros de bois e para as dobradiças de determinados portais, ferraduras, ferros do monte, foices roçadoiras, ponteiros e cinzeis para cortar e lavrar a pedra, sacholas, enxadas, picaretas, machados, alviões, garfos, facas colheres. etc.

                                                            Com a devida vénia do autor

Tudo feito em ferro e moldado com o ferro a ferver, saído do fogo!
Trabalho muito árduo! Trabalho de escravos!
E naquele tempo não havia máquinas! 
As ferramentas para a lavoura e para outras profissões eram feitas pelas próprias mãos do ferreiro.
Posteriormente apareceu um outro ferreiro que era o Sr. José ferreiro, marido da Sra. Laura Rendeira.

                                                    Com a devia vénia do Autor.                                                                         
Oficina do ferreiro. A bigorna, onde moldava o ferro..                       
                       
A oficina era onde o mestre ferreiro, passava o maior tempo da sua vida.
No Inverno, o calor até fazia jeito, mas no pino do Verão, o ferreiro trabalhava quase em coirato.
As faúlhas que saiam da forja, por vezes, furavam-lhe a pele.
Quando batia com o malho na bigorna, para moldar o ferro, saíam lascas de ferro e cravavam-se-lhe no peito, fazendo dele um cristo.

Os nossos jovens de hoje, não fazem uma pequena ideia, dos sacrifícios que passaram os seus antepassados, para fazerem as ferramentas, que foram usadas pelo povo naquela época.

Ainda hoje existem ferreiros a fazer uso daquela profissão, mas com outras condições de trabalho. E ainda bem! Houve grande evolução.


8. Fiandeira

                                                            Com a devida vénia do Autor.
                                              Com a devida vénia do Autor

Na freguesia do Rego, como atrás citei, haviam várias fiandeiras de linho e lã. 
A minha mãe era uma delas, fiava lã, linho e tomentos.

                         Foto da fiandeira, Albertina Alves Teixeira.

                                   Com a devida vénia do autor
                                        

                                                 
 Com a devida vénia do Autor.


                Meias de lâ, feitas pela minha mãe, Albertina Alves Teixeira.
                                          Fuso com a última lâ que a minha mãe fiou.      

Todos os anos pelo Natal, a nossa mãe oferecia a cada filho, um par de meias de lâ feito por sua mão, eu fui guardando nos ultimos oito anos, os pares de meias que a minha mãe me deu e no ultimo momento de vida, lá deixou uma saquinha com a lâ carpeada e a roca com a manadinha de lâ e o fuso com a última lâ que a minha mãe fiou.

A minha mãe, alèm de Fiandeira, também exerceu várias profissões, Jornaleira, Sardinheira e a profissâo de Bicheira. 

A profissão de Bicheira é muito pouco conhecida e até já caiu em esquecimento. Aquela profissão de Bicheira correspondia a aplicação de um remédio caseiro e muito procurado, porque aliviava as dores a muita gente e nos casos de pisaduras, as pessoas saravam em poucos dias, o que as levava a dar preferencia aquele remédio.

                                      
Quando as pessoas davam algum trambolhão e ficavam com parte do corpo pisado ou quando estavam com dor de dentes, inchaços na boca, que as impedia de comer, recorriam ao serviço da Bicheiraque consistia em pôr nas partes pisadas do corpo ou na gengiva onde o dente estava infecionado, sanguessugas a chupar o sangue pisado ou no caso do dente o sangue que provocava a infeção. 

Ora, para que  as sanguessugas, só chupassem o sangue no sitio da parte do corpo pisado ou no dente infetado, a sanguessuga era metida num canudinho estreito, tapado num dos lados, a fim de sugar apenas o sangue nas partes infetadas. 

Logo que a bicha começasse a sugar o sangue, era retirada do canudo. A minha mãe era muito solicitada para aplicar aquele remédio caseiro. Havia mesmo gente rica e até remediada, que a chamavam para ela, lhe ir botar as bichas. 

Só deixou aquela profissão, quando deixou de ter fornecedor, daquelas bichas.

Eu, acompanhei muitas vezes a minha mãe, quando ela ia aplicar aquele remédio, ficava contente por a acompanhar, porque no fim do tratamento, as pessoas, além da paga, davam uma merendinha a minha mãe. Lembro-me, de uma vez a minha mãe, foi chamada, para ir botar as bichas, a mãe do Custódio (Regedor), no lugar do Rego, a mãe do regedor deu-nos um naco de broa, uma grande fatia de presunto e uma caneca de vinho. Eu estava cheio de lazeira, nunca mais me esqueci daquele petisco. Acontecia quase sempre, quando a minha mãe ia prestar aquele serviço. 

Aquele remédio resultava principalmente nas pisaduras dos trambolhões ou porrada. No caso da infecção dos dentes era sol de pouca durana altura resultava mesmomas passado algum tempo, as gengivas voltavam a infecionar. 

Com a devida vénia do Autor

Aquele remédio caseiro ficava caro, mas sem nenhuma botica na freguesia, a mais proxima ficava a várias léguas de distância, naquela época só havia botica em Gandarela e Fafe, só mais tarde é que abriu uma na Pica, eram as localidades mais acessiveis a freguesia, por isso as pessoas recorriam aquele remédio caseiro, "Botar as bichas". Porque elas sugavam o sangue estragado e a cura resultava.

Acresce, que cada bicha que a minha mãe punha a sugar o sangue, ela só saia quando estivesse mesmo quase a rebentar... 

A sanguessuga quando deixava de sugar o sangue, tinha que ser imediatamente espremida, para lhe tirar o sangue que tinha sugado, para  voltar ao normal. 

Acontece, que a maioria das sanguessugas no fim de serem utilizadas uma vez, raramente davam para uma segunda utilização, porque morriam. Por isso por cada uma utilizada, a minha mãe levava uma croa. 

Não haviam aquelas sanguessugas á venda em Portugal, vinham de Espanha, dentro de uns grandes latões, com alguns pés de junco verdes no meio. Transportadas por vendedores para vender ás Bicheiras que faziam aquele trabalho do remédio caseiro. 

O preço por cada bicha, chegava a custar quatro tostões, se comprasse em grande quantidade saiam a três tostões cada uma, mas não era o caso da minha mãe... que não tinha dinheiro para empatar.

Vi muitas vezes aqueles homens no poço da fonte a lavar as sanguessugas e encher as latas de  água fresquinha e também vi aqueles vendedores, lavar as bichas no rego junto a poça das Lavandeiras. 

Suponho que será por isso, que por vezes apareciam sanguessugas naquelas poças, as que a minha mãe tinha, eram de cor escura,  cheguei a ver pelo menos por duas vezes sanguessugas, naquelapoças de cor mais clara. A minha mãe todos os dias mudava duas vezes por dia, a água do frasco, onde guardava as bichas. 

Além das profissões mencionadas anteriormente, a minha mãe também auxiliava o meu pai no arranjo dos guarda-chuvas, nomeadamente quando os guarda-chuvas, tinham que levar nova roda de pano, no fundo dos guarda-sóis, que a minha talhava e cosia.

9. Guardassoleiro 

No lugar de Vilaboa, havia um guardassoleiro, que era o meu pai, Manuel Lopes Vaz, conhecido pelo Pistola de Vilaboa e havia outro no lugar de Bolada, que era o meu avô e padrinho Francisco Lopes Vaz, conhecido por pistola de Bolada .

O meu pai consertava todo o tipo de louça partida , guardassois, travessas, pratos, almofias, malgas, tijelas, alguidares, cantaras, canecas, enfusas, etc..., Na freguesia do Rego, haviam várias famílias ligadas aos Pistolas, em Bolada, no Rego e Alijó.

O meu pai quando ia  dar a volta, para arranjar os guardassois e a louça partida, e ia para longe, para outras freguesiasalgumas vezes levava-me e ficávamos fora de casa duas noites, Ele já sabia qual era a casa de lavoura. onde íamos dormir. 
Á noite davam-nos uma tigela de caldo, um sibo de broa e mandava-nos dormir para o sótão da palha, por cima do palheiro. Os cobertores, eram a palha que nos cobria. Dormíamos no meio da palha, com a roupa vestida.
Aquelas casas de lavoura, tinham sempre muita loiça e guardassois para compor. 
O meu pai chegava ao fim do dia muito cansado.

O meu pai tinha que transportar as ferramentas num grande caixoto de madeira, amarrado ás costas, com uma correia de cabedal, como se pode ver na foto embaixo.



                                                    Com a devida vénia do Autor.

Caminhava com aquele peso ás costas, desde que saia de casa até voltar. 

Ele já levava os pontos feitos, para os vários tipos de loiça. Para cada peça de louça, os pontos eram diferentes e feitos de materiais diferentes. Também levava guarda-chuvas usados, para vender e materiais para arranjar os estragados, ia tudo amarrado por cima do caixoto. 

O meu pai quando chegava á entrada de cada lugar, para marcar a sua presençatocava uma gaita, feita de madeira, muito parecida com a do capador, embora com uma melodia diferente. Era muito conhecido, em  várias freguesias, devido á sua profissão.

As duas bombas na fotografia acima, de fazer os furos, para consertar as loiças, a grande era a do meu paia outra era do pai dele, meu avô paterno, que já deve ser muito antiguinha, porque a profissão já vinha de pais para filhos...

Em todas as casas que se partia loiça, malgas, pratos, etc...ricos ou pobres, aguardavam a chegada do mestre guardassoleiro, para compor a louça e guardassois. Os pobres que tinham dificuldades em comprar louça nova, os lavradores mesmo gente abastada, quando partiam loiça antiga, que já vinha dos seus avós, mandavam consertar, para não perderem aquelas relíquias e também mandavam arranjar a loiça normal. 

Por casualidade, descobri que, existia loiça composta pelo meu pai, na casa de lavoura do Senhor Casimirinho da Venda, antigo Regedor e Presidente de Junta da Freguesia do Rego, Sr. Casimiro Alves de Araújo
                                                   Casa de lavoura do Senhor Casimirinho da Venda

Os seus filhos, Sr. Albano  Araújo e Sra. Júlia Araújo,  muito gentilmente, cederam-me aquelas peças de loiça, consertadas pelo meu pai, para eu tirar fotos, duas relíquias que já eram do tempo dos seus bisavós, foram consertadas pelo meu paia travessa era onde serviam as rabanadas pelo Natal e pelo Ano Novo e no prato serviam as filhoses, como me descreveram os referenciados herdeiros.

                                                                                                                                                    
        Prato onde eram servidas as filhoses

                                                                              
  Travessa onde eram servidas as rabanadas


Como se pode observar no conserto desta travessa, os pontos não são iguais, uns são maiores outros são mais pequenos e a distância e largura de colocação são diferentes e os pontos de consertar as malgas e tigelas, eram feitos de material diferente.
Esta travessa que se vê na foto, tem décadas de anos depois do conserto e ainda hoje podia continuar a ser usada, nas mesmas condições como se fosse nova, aqui se vê a eficácia no exercício da profissão do meu pai.

Uma vez, a Sra. Albertininha, governanta na casa do Sr. Abade José Gomes Júnior, apareceu aflita na casa do meu pai, com uma grande travessa dentro de uma saca. A travessa tinha partido a meio, a Sra. Albertininha pediu ao meu pai a ver se ele conseguia compor a travessa sem levar pontos

Era uma travessa de grande estimação,  que era usada quando haviam confessos ou festas, onde se juntavam vários sacerdotes e almoçavam na  residência paroquial e a Senhora Albertininha tinha vergonha de apresentar a travessa concertada.

O meu pai disse á Senhora Albertininha, que ia estudar o caso e que depois lhe diria alguma coisa. Disse que nunca fez daqueles consertos e que era difícil arranjar a travessa como ela queria, sem levar pontos.

Eu assisti aquela conversa, e verifiquei que o meu pai, andou vários dias a descobrir a maneira de satisfazer a vontade da Sra. Albertininha. 
 Experimentou vários tipos de colas engendradas por ele, até que conseguiu fazer uma cola, misturando três quartos de resina de pinheiro e um quarto de cera e não é que resultou mesmo! 
O meu pai colou a travessa com aquela cola, pôs-lhe certo peso em cima e agarrou numa das partes que estava colada e experimentou a ver se ela aguentava o peso. 

Acontece, que a travessa aguentou aquele peso, como quando era nova, só com um inconveniente, não podia ser usada com comida quente e desse inconveniente , avisou a Sra. Albertininha, que ficou muito contente, porque o Sr. Abade gostava muito daquela travessa e nem sequer foi informado que aquela travessa tinha partido.

Narrei este caso; não para elogiar nem engrandecer o meu pai, mas porque o meu pai era  um homem totalmente analfabeto, mas era um homem inteligente.
Conseguiu levar a Carta ao Garcia, O que  raras vezes isso acontece, mesmo com bons artistas.


10. Costureiras

Na freguesia do Rego existiam várias costureiras e até várias lavradeiras tinham maquinas de costura e faziam a sua costura mais andadeira e remendavam a sua própria roupa em casa. Só recorriam aos serviços das costreiras para fazerem as fatiotas novas.

Contudo, havia no lugar de Vilaboa, uma casa de costureiras, junto ao terreno da Sra. Florinda D´Além, em frente ao caminho que vai para o Rego e Alijó, conhecida pela casa do Sr. Alfredo do Correio.
 Naquela casa de família, trabalhavam várias costureiras, a esposa do Sr. Alfredo e as filhas. Aquelas costureiras eram umas perfeitas mestras de costura. Era ali que iam mandar fazer os seus fatos, as lavradeiras, caseiras-rendeiras e algumas mulheres do povoquando tinham alguns vinténs, também iam ali mandar fazer algumas roupas, normalmente de chita, riscado, fioco, cotim, etc... porque eram os tecidos mais baratos para o pobre, porque as pessoas abastadas é que usavam a pelúcia, a castorina o cetim e outros artigos de fazenda. 


                                                                        com a devida vénia do Autor

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 As lavradeiras das casas abastadas mandavam ali fazer toda a sua roupa, desde a camisa, o chambre, a saia. o saioto, a naugua, corpete, casacos. etc...

11. Croceiro\a

A profissão de croceiro\a, é uma das profissões mais antigas que existia na freguesia do Rego. Naquele tempo, os lavradores cultivavam nos seus campos, o junco do qual as croças eram feitas.

                                               Plantação de Junco           Com a devida vénia do Autor                                                                                                                 
O junco para se desenvolver nas suas condições normais, tinha de ser plantado em terrenos muito húmidos e encharcados. Todos os lavradores que tivessem esses terrenos, plantavam várias touças de junco, para vender aos croceiros. 

Haviam várias plantações de junco em Vilaboa, apenas cito algumas, a do Sr. Bernardino da Tomada, no lugar do Reboredo. 


E junto ao rio que atravessa o lugar de Vila-BoaUma leira de junco do senhor António "Tecedeira" conhecido também, por "Carmona"morava no lugar de Vila-Boa, junto a canelha que ia sair a fonte de Vila-Boa, também era conhecido por António Tecedeira, porque a sua esposa era uma excelente tecedeira, tecia vários tecidos. O Sr. António "Carmona" era um  croceiro muito completo, fazia dois tipos de croças, as normais e a celebre croça de capa completa com capucho e polainas. Foi o ultimo croceiro a exercer a profissão.

                                               Com a devida vénia do Autor
 
Foi o Sr. António "Carmona", que fez parte das croças, que atualmente são usadas pelos ranchos de várias localidades do País. 
O último preço que levou pela feitura das ultimas croças de capa, completas com capucho e polainas, feitio e material, foi 3.500 mil escudos.  

                                Com a devida vénia do Autor

No lugar de Vilaboa, tinha pessoas na minha família, que também faziam croças, a minha tia, esposa do meu tio Domingos e a minha avó materna, Emília Alves de Magalhães, mas não faziam as croças de capa. Só faziam as croças normais e também no lugar de Vila Boa, havia o croceiro Casimiro Cabanelas, que normalmente só fazia as croças normais.

No lugar de Alijó, havia dois croceiros, o Sr. Pires e a esposa, que faziam todo o tipo de croças e em grande quantidade, porque vendiam as croças em várias feiras, Fafe, Lameira, Carvalho,  Fermil, Cabeceiras, Arco de Baúlhe, etc...

Haviam dois tipos de croças, a croça normal e a croça de capa. As croças eram feitas depois de o junco estar seco. Eu cheguei a usar a croça normal, quando era pegureiro. Quando foi criado de servir, na casa das laranjeiras no lugar de Casadela, Fafe.



                                                                     Com a devida vénia do Autor.

A croça normal era menos trabalhosa, porque se fazia diretamente conforme o junco  vinha das junqueiras, era seco e só depois de seco, é que a croceira fazia as croças, o capucho e polainas, destinadas normalmente para os pobres que não tinham dinheiro para mercar a croça de capa.

    
    Com a devida vénia do Autor                                     

 Com a devida vénia do Autor

 A croça de capa era para os lavradores ou para quem tivesse dinheiro para as mercar.


           
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Era uma croça toda trabalhada a penteado, o junco era passado num cedeiro, ficava as tirinhas, a croça feita naquele modelo, tinha várias rodas, era mesmo tipo capote alentejano, era composta por as respetivas polainas e capucho.
                                             

12Farrapeira e Oveira  

A farrapeira e oveira, Josefa Pires, morava no lugar de Bolada era minha avó  paterna.


                                     A  minha avó, Josefa Pires,  a minha esposa, Maria de Lourdes e meu irmâo Manuel.
  
Esta foto foi tirada a minha avóna primeira visita que fiz a aldeia do Rego, depois de casado. Setembro de 1957.

Ela estava a esfolhar o milho,  parou o trabalho, para eu lhe tirar  aquela foto, com a minha esposa e o meu irmão mais novo, Manuel Teixeira Vaz.

A minha avó estava junto ao espigueiro do lavrador Joana, de Bolada, a esfolhar um carro de milho, que o lavrador Joana, ali descarregou para ela esfolhar. 

Naquela data, ela já tinha uma idade avançada. Quando morreu tinha mais de noventa anos. Farrapeira e Oveira, Josefa Pires, mercava ovos e farrapo velho, normalmente, nos lugares das freguesias do Rego e Borba, ás vezes também ia mercar, nos lugares de Burgueiros e Seidões, concelho de Fafe. 

                                                               Com a devida vénia do Autor

Os ovos que mercava, vendi-os nas Confeitarias de Fafe e também nalgumas Vendas.

Para transportar a Mercadoria que mercava, usava um grande açafate, (o maior que o cesteiro conseguia fazer), colocado á cabeça sob uma rodilha e com uma pequena cesta na mão, onde trazia além de outras coisas, dois pesos feitos de pedra, correspondentes, a dois arráteles e um arrátele, para pesar o farrapo velho que comprava. 

    A Balança igual aquela, onde a minha avó pesava o farrapo velho.


O celebre Açafate

Quando ia dar a volta aqueles lugares, para mercar os ovos e o farrapo velho, levava bem escondida no fundo do açafateuma mercadoria clandestinaque era proibida a sua produção e venda. 

Mas, a minha avó, já tinha fregueses certos, para aquela mercadoria. As lavradeiras, os lavradores, caseiros e até os pobres, todos compravamporque na loja, aquele artigo era mais caro. 

Acresce, que naquela época, era considerado artigo de primeira necessidade, porque era consumido a qualquer hora do dia ou da noite. Tratava-se de palhitospara acender a lareira, o cigarro, o cachimbo, a candeia, os fachos para caminhar nas noites escuras e todas as fogueiras necessárias. 

Também era Oveira, a sua filha,  Maria Pires "Pistola, "minha tia", que morava no lugar da Costinha, mercava ovos, pintainhos e frangos. 

  
                                                                A minha avó  e a filha, minha tia Maria Pires.

A minha tia, para fazer o seu negócio, percorria os mesmos caminhos e lugares, por onde a sua mãe Josefa Pires, caminhava á procura dos fregueses. 
Assim passou a profissão de Oveira, da mãe, para a filha. 

A minha tia Maria " Pistola"


13.  Guardassoleiro e Palhiteiro.


O meu avó e padrinho, Francisco Lopes Vaz, conhecido pelo Pistola de Bolada, morava no lugar de Bolada, numa pequena enxovia, com uma única divisão. 

                                                    Francisco Lopes Vaz, " Pistola de Bolada 

Era guardassoleiro, consertava a loiça e guardassois, encostado a uma velha carvalha, que existia entre o muro da horta do Vicente de Bolada e o caminho, em frente ao seu casebre. 

Era junto aquela carvalha que estava sempre, quando não ia para a venda. O povo de Bolada, chamava aquela arvore, a carvalha do pistola de Bolada. O meu avô, também fabricava palhitosque a esposa vendia clandestinamente, quando ia comprar   os ovos e farrapo velho.

Os palhitos, chamados " espera galego" eram feitos de pau, depois de lhe ser colocada a cabeça para acender, eram metidos numas pequenas saquinhas de papel, tudo feito pelo meu avô, paus, cabeças e sacas, cada saquinha levava quinze fósforos, depois de prontos, eram metidos de novo, numa saca de papel, até perfazer uma groza. Aqueles palhitos não precisam de lixa para acender, porque acendiam logo que os raspassem em qualquer sitio.

Como vendia muito barato, os fregueses compravam várias grozas de cada vez. 
A matéria prima, para fazer a cabeça dos fósforos, era mercada na  Espanha. O dinheiro que angariava naquela pequena "industria" era todo para gastar em cigarros e vinho, na venda do Zé/Dalém. 

Só deixou de fabricar aqueles lumes, quando começaram aparecer os esqueiros, que só era permitido o seu uso, com uma licença passada pela Camara Municipal.
Como a maioria das pessoas que usavam o esqueiro, não tiravam licença, ficava mais barato o uso do esqueiro.

14.  Mineiros.

Na freguesia do Rego, haviam vários mineiros, eram eles, que faziam todas as minas, das nascentes de água, para as poças, que regavam os campos.

Os donos das propriedades, antes de mandar fazer as minas, falavam com um Vedor, que lhe indicava, onde passava a veia de água, para fazer a mina.

Acontece, que por vezes o Vedor falhava na informação e o mineiro tinha de minar até encontrar a veia da água. Para encontrar agua, o mineiro tinha de perlongar a mina por várias extensões, duns tantos em tantos metros, o mineiro tinha de abrir um furo para a superfície, chamado suspiro, para entrar ar. 

Se o terreno fosse mole, a mina tinha de ser escorada para evitar aluimento. 

Era uma profissão de risco e mal paga.

. Quando uma industria alemã, no tempo da guerra, veio para Portugal, para as minas da Borralha, explorar o volfrâmio, muitos mineiros da freguesia do Rego foram para lá trabalhar, ganhavam um ordenado maior.

Naquela época, com a euforia do minério, levou um engenheiro industrial de Guimarães, a fazer pesquizas na freguesia do Rego e descobriu no quinteiro  da casa do sr. Manuel Teixeira da Silva, no lugar de Alijó, um grande filão de minérioque se encontrava a grande profundidade naquele quinteiro, Aquele minério, podia ser utilizado para fazer louça, sabão e remédios. 

Naquele momento foi uma boa descoberta para a Freguesia do Rego.

Porém, aquele lindo sonho ao fim de três meses, acabou numa tragédia.

 Naquela pequena Industria de extração de minério, trabalhavam três prestigiados mineiros, José Lopes Vaz, Florêncio Lopes da Fonseca e Celestino Ferrador, moradores no lugar de Alijó, extraiam aquele minério em galerias, que ficavam a grande profundidade. O José  Lopes Vaz, era irmão do meu avô paterno.

Sucede, que uma daquelas galerias  mal escorada, aluiu. Aqueles três mineiros, ficaram ali soterrados sem qualquer hipótese de salvamento. Só ao fim de dois dias é que conseguiram retirar os corpos daqueles três infelizes mineiros. 

Aqueles três defuntos, foram depositados no alpendre do outro lado do caminho, em frente ao quinteiro, onde tinham sido soterrados aqueles infelizes três mineiros. 

O povo prestou-lhe o devido velório, eu acompanhei os meus pais, naquele velório.  Fiquei tão traumatizado, que ainda hoje, ao descrever esta memória, parece que estou a ver aquelas três caras, negras e muito inchadas, dentro daqueles três caixões naquele alpendre junto a eira.

Os mineiros, meus parentes, José Lopes Vaz e o Celestino "ferrador" eram casados, deixaram filhos de tenra idade e esposas, em situação muito difícil, o mineiro Florêncio Lopes de Fonseca, era solteiro.

Privei algumas vezes, com aqueles meus primos, descendentes de José Lopes Vaz, 0 Augusto Pistola e a  Elvira Pistola, de profissão sardinheira, foi uma grande mulher de vida. Mulher com H dos grandes

As casas construídas no outeiro, em Alijó, são todas propriedades pertencentes á família dos pistolas de AlijóA minha prima Elvira Pistolapercorreu a passo durante muitos anos, as ruas, caminhos, carreiros e montes, o trajeto do mercado de peixe, da cidade Fafe, até aos lugares da freguesia de São Bartolomeu do Rego. 

 Era para lhe tirar fotos e fazer um pequeno filme aquela grande mulher, quando a visitei na sua casa, já com avançada idade. Mas, a filha que estava a tomar conta da mãe Elviraproibiu-me de tirar qualquer fotografia ou fazer qualquer alusão  da conversa, que ia conversar com a sua mãe

Autorizou-me a falar com ela a vontade, mas proibiu-me de divulgar qualquer conversa ou tirar fotografias. 

Fiquei com pena, porque entendo que aquela minha parente, era digna de constar nas memórias do Rego, porque durante a sua existência, honrou a memória do seu saudoso pai, da sua mãe e as suas raízes da família dos Pistolas.

Cumpri rigorosamente, o que me foi pedido pela filha da minha prima, Elvira Pistola, não tirei fotos, nem divulgo aquela importante cavaqueira, que tivemos os dois.


15. Ferrador.

Na freguesia do Rego, existiu no lugar do Rego, um famoso ferrador, chamado António Rodrigues, (ainda hoje existe no lugar do rego, a casa do Ferrador) era naquela casa, que os padres de várias paróquias, incluindo o padre José Gomes, iam ferrar os seus cavalos ou éguas.. 

                                        Com a devida vénia do Autor

Naquele tempo, os cavalos ou éguas representavam os mercedes de hoje, porque eram o transporte de luxo daquela época, principalmente na freguesia do rego onde não existia uma única estrada, era só carreiros e caminhos e mesmo os caminhos eram péssimos, com excepção do caminho principal que ligava o lugar de Lameira  até á venda do Zé\D`Além, aquele meio de transporte, era o mais adequado. 


Como é obvio, aquele ferrador também tinha outros clientes que tinham gado cavalar e que o levavam a sua oficina para ferrar.
  Aquele ferrador era um grande mestre, além de ferrar todo o gado cavalar, também  prestava assistência ao gado bovinoEra um perfeito Veterinário

Trazia sempre consigo um velho livro de receitas, para tratamento dos animais e por vezes até de várias pessoas. Receitava vários remédios para dar aos animais quando estavam doentes. Sempre que necessário procedia ao seu sangramento e é curioso que as vezes era chamado também para sangrar as pessoas. Aquele acto era um remédio caseiro muto usado pela grande maioria do povo da freguesia do Rego.

O ferrador António Rodrigues, também ia todas as quartas feiras, ferrar cavalos e éguas para a feira de Fafe. Ia munido de ferraduras, cravos e toda a ferramenta necessária, incluindo a forja para moldar as ferraduras em conformidade com a pata dos animais.

                                             Com a devida vénia do Autor

Já tinha vários clientes certos, incluindo também vários párocos, das paróquias do concelho de Fafe, que levavam ali naquele dia da feira os seus cavalos ou éguas. para o ferrador António Rodrigues lhe prestar o seu serviço.

No fim da feira, juntava todos os seus apetrechos e lá carregava com eles as costas a caminho da sua casa e oficina no lugar do Rego, procurava os caminhos mais diretos na travessia dos lugares e carreiros e montes até chegar a sua casa, alias era o caminho que todos os habitantes da freguesia do Rego percorriam quando iam a feira de Fafe.

Aconteceque numa quarta feira. quando acabou de prestar os seus serviços de ferrador aos seus clientes, de regresso a sua casa pelos mesmos caminhos já citados, quando chegou junto do marco de cabanas, já a começar a escurecer, foi surpreendido por dois malandrins que se aproximaram do ferrador, simulando que tinham ali perdido determinado objeto e pediram a sua ajuda para o procurar. 

O ferrador António Rodrigues, pousou no chão, todos os seus apetrechos que levava as costas, e começou a ajudar a procurar o simulado objeto perdido; de repente os dois bandidos começaram a agredir selvaticamente o artesão ferrador, que caiu no chão e, continuou a ser pontapeado e espancado até desacordar. Os facínoras que o agrediram, julgaram que ele já estava morto e deixaram-no abandonado naquele local.

Passado umas horas, de regresso da feira, ao passar por ali, o senhor Francisco do Bento, que morava no fundo do lugar na ultima casa de Vila boa, encontrou o ferrador António Rodrigues, caído no chão em perfeita agonia. Tinha várias costelas partidas e o corpo todo pisado da grande polinheira que aqueles bandidos lhe deram.

 O Sr. Francisco do Bento,  carregou os apetrechos e o ferrador na albarda da sua égua e lá vieram os dois montados, com as ferramentas, até casa do mestre ferrador  no lugar do Rego. Se não tivesse ali, aparecido naquele momento o sr. Francisco do Bento, o ferrador tinha morrido ali abandonado ou comido pelos lobos durante a noite,que ali passavam.

A tareia que aqueles bandidos deram ao ferrador, deixaram-no as portas da morte, ao fim de três meses faleceu.  

Ambrósio Lopes Vaz

Nota- este post já tinha sido pulicado, mas foi atualizado e corrigidos muitos erros.

  Caros amigos, amigas e seguidores do blog “Memórias da freguesia do Rego- Celorico de Basto”, comunico a todos que as “Memórias da fregues...