domingo, 22 de novembro de 2009

A Origem do Blog "Memórias da Freguesia do Rêgo"

... de como o Inventário de Coisas Antigas vem dar voz ao testemunho de Ambrósio Lopes Vaz que através de pergaminho de seu nome blogue da televisão relata as mui sofridas misérias por que passou há cerca de setenta anos no reyno de Portugal e por nos paresser verdade e para que possa sua voz ser escutada por todolos e todalas cujo maior sarillo será porventura o de saber como iram pagar as prestações da viagem a Punta Cana aqui he transcrição de suas mesmas palavras: 

"O indigente era considerado escravo com direito á vida, perante as autoridades policiais da aldeia (regedor e cabos de secção) ele não tinha nenhuns direitos era vigiado.por as ditas autoridades.Foi isto o que aconteceu á minha família e a outras da aldeia . fomos considerados indigentes.

Vou contar alguns casos da minha infãncia.Mas antes de o fazer vou idenficar a aldeia e a familía .Chamo-me Ambrósio Lopes Vaz, nasci no lugar de Vila-Boa,freguesia do Rêgo,concelho de Celorico de Basto,numa pequena casa de telhado de colmo com uma unica divisão, onde nasceram dez filhos .

A casa não tinha chaminé,nem janelas,só mais tarde é que foi aberto um postigo,o fumo saía pela porta da entrada,o chão da casa era de terra ,como não havia latrina e havia só um penico e as diarreias eram constantes ,as necessidades eram feitas dentro de casa,a minha mãe cobria com cinza as fezes e depois raspava o chão  com uma sachola, para apanhar as fezes. 

Dentro de casa, por baixo da maceira onde se amaçava o pão, existiam capoeiras de galinhas e casota de coelhos, dentro da casa, havia duas camas, separadas por um pequeno taipal, mas isso não evitava que eu tomasse conhecimento das relações sexuais dos meus pais. O nascimento dos filhos era feito junto á lareira, a minha mãe deitava-se no preguisseiro e os filhos ao nascer, caiam nuns farrapos e a seguir a minha mãe cortava a invigueda e lavava a criança e os panos eram lavados e guardados para o próximo nascimento .Nós só assistiamos aos nacimentos se fosem á noite ou se chovesse, caso contrário o parto era feito á porta fechada. 

A nossa alimentação, era apenas caldo e por vezes era só uma tigela, porque quando  pediamos a nossa mãe, mais uma malga de caldo, não havia, Ela dizia: o resto que está no pote, é para o pai,que vai ganhar a jorna. No inverno a sopa era feita de labrestos, porque não se arranjava couves.

As doenças eram frequentes,sarampo,sarna etc.Não havia higiene,nem limpeza, os piolhos eram aos montes,por vezes eramos afectados pelas duas qualidades os do corpo e os da cabeça. As pulgas e os percevejos, eram aos montes, tinhamos o nosso corpo todo cravado de ferradelas.

A partir dos quatro anos, iamos  pedir esmola, pelos lugares da nossa freguesia e por outras. Duma vez eu andava a pedir e vi uma galinha com uma espinha de bacalhau na boca, que tinha tirada duma estrumeira e eu tirei-lhe a espinha, para eu comer, tal era a fome que eu tinha.,pois naquele dia, não tinha conseguido nenhuma esmola de pão, mesmo cheio de velore como era costume.O que havia em casa,para comer, era sempre sal num caixoto e nós comiamos o sal ás mancheias. 

logo, que tivessemos algumas forças e os nossos pais conseguissem arranjar amos para nos pôr a  servir, iamos servir, o primeiro ano, trabalhavamos só pela mantença e deveres, nos anos seguintes, ganhavamos a soldada e deveres.Como eramos menores,ainda crianças,quem  ajustava a soldada e os deveres, que os amos tinham que pagar, soldada no fim do ano e deveres durante o ano,eram os pais.
Andei a sevir na casa da laranjeira, lugar de Casadela, Fafe, na casa dos lopes do lugar de soutelo, Ribas, Celorico de Basto, casa do Albino Alves, lugar da Lameira, Rego- Celorico de Basto e casa das carreiras, Jugueiros, Felgueiras.

Aos 13 anos, vim servir para cidade do Porto e concelho de Matosinhos e entrei noutro tipo de escravidão. Éra vendido na feira como os animais e que eu tenha conhecimento, só havia feiras dos moços, nos concelhos do Porto e Matosinhos. (...)"
"(...)Todos os indigentes eram avisados por edital e como eram analfabetos o edital era lido na missa pelo Sr.Abade e dizia, que tinham que se apresentar na sede da junta para trabalharem de sol a sol , de graça e seco, sem qualquer alimentação (e isto nos dias grandes, que era para render mais),para darem .um dia de trabalho ao Estado para comporem os caminhos e quelhas. 

Os lavradores e caseiros, colaboravam com os carros puxados por vacas e por vezes zorras quando se tratava de pedras maiores e que eram partidas no monte . 

Os Indigentes apresentam-se aos cabos de Secção e estes chamavam pelo seu nome e os que faltassem e não justificassem a falta, eram enviados ao tribunal da comarca para serem condenados por não comparecerem. 

A condenação era baseada no imposto de trabalho.A jorna era de UM ESCUDO POR DIA quando tinham trabalho, mas, neste caso, tinham de trabalhar de graça e nem sequer a comida lhes davam,

Por essa falta ao trabalho, o tribunal condenava o faltoso a pagar ao Estado, DEZ ESCUDOS E CINCOENTA CENTAVOS, assim aconteceu ao meu avô e padrinho, Francisco Lopes Vaz, era manco e mesmo aleijado, e não podia trabalhar,as autoridades administrativas conheciam bem a situação do meu avõ , mesmo assim, enviaram o processo para o tribunal da Comarca, que o condenou a pagar 10$50. 

Tenho em meu poder, o original dessa condenação. " desenhos: Leonardo DA VINCI Publicada por gisela cañamero em 1:58 PM Etiquetas: os indigentes 

  Resolvi publicar nas Memórias do Rêgo estes meus comentários originalmente escritos sobre uma notícia da rtp, que foram transcritos para o blog de Gisela Cañamero pela própria, e que foram lidos pelo meu Amigo Dinis Carvalho que me alvitrou a escrever as Memórias do Rêgo.

  Caros amigos, amigas e seguidores do blog “Memórias da freguesia do Rego- Celorico de Basto”, comunico a todos que as “Memórias da fregues...