sexta-feira, 22 de outubro de 2021

 

Lançamento de bombas na Residência Paroquial.  

  A P.I.D.E invadiu a freguesia do Rego e prendeu muitas pessoas.

 


                                                                                    Com a devida vénia do Autor


Sociedade feudal, CLERO, NOBREZA e POVO.

        

Com a proclamação da Républica acabou um regime tirano que oprimia e esmagava o povo. Só o Clero e a Nobreza, é que tinham todos os direitos. As três constituições, que geriram o reinado da Monarquia, estabeleciam todos os privilégios ao Clero e á Nobreza. A constituição estabelecia que os Cardeais, Bispos e outros altos dignatários da igreja, também fossem eleitos para a corte, onde eram tomadas todas as decisões para o País.

A Constituição de 1822 determinava a celebração de missa nas Assembleias de voto, antes da votação...O Povo é que alimentava todos aqueles “Lórdes” ... Em todos os países onde predominava a religião Católica, quem determinava toda a governação, era o Clero, com as orientações da Santa Sé....

Os Reis, podiam mesmo ser cardeais ou bispos, como aliás aconteceu em Portugal.

Mas todos os Reis, só podiam governar, depois do Papa decretar a bula que lhe dava os poderes de ser Rei e governar.

Foi este Regime, que vigorou durante seculos, na Monarquia.


PROCLAMAÇÃO DA RÉPUBLICA, EM 5 DE OUTUBRO DE 1910


                                                                                    Com a devida vénia do Autor













Quando foi proclamada a República, o pais tinha 80 % de analfabetos e a maior percentagem de analfabetos era nos meios rurais.


                                                                                    Com a devida vénia do Autor

Proclamação da Républica no Parlamento, Assembleia Nacional Constituinte.

 O povo vivia na miséria. O clero e a nobreza viviam regaladamente como Lórdes.

Durante várias décadas, houveram várias revoltas, para pôr fim aquele deplorável regime, mas os autores foram vencidos e condenados á morte. Aqueles que lutaram pela Liberdade pagaram com a vida, foram assassinados

A luta continuou até á vitória final. Venceram.

Mas, o novo regime ainda demorou muito tempo a ser posto em prática, nas freguesias rurais. O clero continuou a dominar. Ignorou a mudança de regime.

Quem continuava a ser a autoridade máxima nas freguesias, era o sr. Abade. Nenhum empreendimento, por mais pequeno que fosse, podia funcionar, sem primeiro ser benzido, pelo sr. Abade. O clero continuou a funcionar como se nada tivesse acontecido, para ele, continuava a existir as três classes, CLERO, NOBREZA e POVO.

Durante a Monarquia a Santa Sé determinava, que, na localidade onde fosse criada uma Paróquia, os habitantes dessa localidade, tinham que ceder á nova paróquia, residência para o Abade e terreno para pensar um cavalo ou égua

A esse terreno chamava-se passal.

Naquela época, possuir um cavalo ou égua, era um luxo, correspondia a um mercedes de hoje!

O primeiro governo Constitucional, Afonso Costa, fez a Lei de Separação da Religião e o Estado. A partir da publicação daquela lei, os Passais e Residências dos Abades, que eram pertença das paróquias, podiam ser vendidas.

Naquela data, da implantação da República (5 de outubro 1910), paroquiava a freguesia do Rego, o Sr. Abade José Gomes Júnior, que na altura era novo, tinha quarenta e dois anos, mas já possuía na freguesia do Rego, uma lavoura e casa, onde vivia o seu caseiro, António Sarilho, mulher e quatro filhos, Cacilda, António, Albino e Domingos, que cultivavam os campos.

O Sr. Abade, astúcio, perante um povo, na esmagadora maioria analfabeto e confiante no seu cura, não perdeu a oportunidade, de aproveitar a lei do Afonso Costa, “poder ser vendidas as residências e os passais”. Como era costume, o Sr. Abade durante a missa ao domingo, comunicava as notícias referentes á freguesia, no meio daquelas notícias, anunciou mais uma. A residência e o passal, vão ser vendidos em leilão. 

Os paroquianos, que lançarem sobre o valor, dado á residência e passal, que é posto em leilão, serão excomungados...

Como ninguém queria ser excomungado, nenhum habitante da freguesia do Rego, apareceu a cobrir aquele valor, o Sr. Abade José Gomes Júnior, comprou a residência e o passal por tuta e meia, e a freguesia do Rego, ficou sem residência e passal, para albergar o próximo substituto, do Sr. Abade José Gomes Júnior, quando ele fosse substituído.

Naquele tempo, todos os paroquianos, tinham de pagar a congra, também chamada oferta ao Sr. Abade, um alqueire de milho, por cada casal e meio alqueire, por cada viúva ou mulher sozinha. Os indigentes não tinham dinheiro nem milho para pagar a congra. 

Havia um lavrador, no lugar de Arbonça, chamado Sr. Anselmo que arrendou as terras ao Sr. Ferreira. O Sr. Anselmo como era um homem rico, ausentava-se para o Porto ou para Lisboa por largo tempo e deixou um feitor a gerir os seus negócios.

Aconteceu que o feitor vendeu várias árvores das moutas sem ordem do patrão Anselmo. Quando o patrão veio visitar as terras deu pela falta daquelas árvores e indagou o caseiro quem é que as tinha cortado, o caseiro disse-lhe que foi o feitor.

O patrão como não tinha herdeiros, deu a lavoura ao Sr. Ferreira, com a condição, de no mês de São Miguel, dar um carro de milho (quarenta alqueires), para distribuir por quarenta indigentes da freguesia do Rego, um alqueire de milho a cada um e quando ele morresse, mandar dizer uma missa pela sua alma, no dia da distribuição daquela esmola, os indigentes antes de ir receber aquela oferta, ir aquela missa por sua alma.

. O meu pai e os meus avós, recebiam um alqueire de milho, que o Sr. Ferreira nos dava. 

Era o Sr. Abade, que tinha a lista dos indigentes, que tinham direito e avisava na missa, o dia para os indigentes ir receber a oferta.

Mas, a oferta que recebiam, ia direitinha para o Sr. Abade, para pagamento da congra. O Sr. Abade, conforme ia recebendo, aquelas rasas de milho dos indigentes, tinha a lista com o nome de todos e ia riscando o nome. 

Aquele homem rico que deu aquela lavoura ao caseiro e se lembrou de deixar aquela oferta para os quarenta indigentes da freguesia do Rego, acabou por beneficiar o Sr. Abade José Gomes Júnior. Os pobres que tanto precisavam daquele milhinho, não lhes tocava nada, porque tinham que pagar a oferta ao Sr. Abade.

O Senhor Abade, traumatizou-me em criança e a outras crianças da freguesia do Rego.

Aquele servo de Deus, não gostava dos filhos dos pobres indigentes, só gostava dos filhos dos lavradores e dos Senhores mandantes da freguesia do Rego.

Vou narrar, alguns episódios que o Sr. Abade me fez em criança e que me marcaram para toda a minha vida, porque via no Sr. Abade o próprio Deus.

Foi a educação que os meus saudosos pais me deram. A mim e aos meus irmãos.

Aquele Abade, continuou o seu sacerdócio, como no regime da Monarquia, para ele não havia república. Todas as crianças quando o vissem, mesmo á distância, tinham que lhe pedir a bênção e beijar a mão. Se por acaso se descuidassem daquele dever, o Sr. Abade, chegava a beira da criança, puxava-lhe as orelhas, a seguir dava-lhe um grande estalo na cara. E fazia queixa aos nossos pais, por aquela falta de respeito!

Isso aconteceu-me por três vezes. Não aconteceu mais, porque mudava de caminho, quando o avistava ao longe. Mas, quando trocávamos o caminho, o Sr. Abade fazia queixa aos pais, por não lhe pedirmos a bênção e beijar a mão. eramos castigados pelos pais, com umas gibatadas, por não termos ido ao encontro do sr, Abade, pedir a benção e beijar a mão.

Outra malandrice, que aquele servo de Deus me fez, deixou-me mesmo a chorar. Era mesmo muito mau. No tempo da colheita do milho, como os caminhos e quelhas eram cheios de covas, os carros ao trazerem os milhos dos campos, para os esfolhadouros, deixavam cair algumas espigas que se soltavam, elas ficavam nos caminhos, que tinham ligação com os campos. 

Os pobres mandavam os filhos apanhar aquelas espigas que ficavam nos caminhos.

A minha mãe mandava-me dar uma volta por aqueles caminhos, onde passavam os carros, para apanhar aquelas espigas, para ela fazer farinha, para fazer umas papinhas, ou até para dar aquele milho ás galinhas.

Aconteceu, que quando o Sr. António Sarilho, andava com os carros a carregar o milho dos campos do sr. Abade, o citado Servo de Deus, andava sempre atrás dos carros do caseiro, que vinham dos campos dele, para apanhar as espigas, que caíam do carro do caseiro e dos outros carros dos lavradores que vinham doutros. campos.

Uma vez, o Sr. Abade cruzou-se comigo, quando eu vinha de outro caminho e trazia os bolsos cheios de espigas. Ele disse-me: dá-me essas espigas, que são dos meus campos, eu respondi-lhe: são dos caminhos das veigas, não são dos seus campos, ele tirou-me as espigas dos bolsos e deu-me um grande puxão de orelhas, por não lhe dar as espigas.

Eu, de quinze em quinze dias, ia pedir esmola a casa do Sr. Abade, e a Sra., Albertininha dava-me um grande naco de broa. Aquela broa era muito boa, tinha mistura de centeio e restos de trigo da feitura das hóstias. Quando chegava a casa, com aquele pedaço de broa, a minha mãe partia ás fatias pequeninas e dividia por todos, dava uma fatia a cada um...

Em determinado dia, que eu fui pedir a esmola á casa do Sr. Abade, a Sra. Albertininha, como de costume, deu-me um pedaço de broa, quando me encaminhava para a porta de saída, o Sr. Abade surgiu do passal e chamou por mim, eu pedi-lhe a bênção como de costume e beijei-lhe a mão, o quinteiro da residência, por cima tinha uma ramada cheia de cachos de uvas brancas. O Sr. Abade apontou o dedo para aquelas uvas, que estavam maduras. Julguei que me ia dar um cacho de uvas, mas o Sr. Abade não me deu nenhum cacho daquelas uvas. Em vez de me dar o caxo de uvas, arranjou-me uma cilada.  

Disse-me: “Ambrósio, quando chegares a casa, tira três ou quatro batatas, que os teus pais têm lá em casa, e escondido dos teus pais, traz-me as batatas, voltou a apontar para o cacho de uvas, que eu te dou um cacho de uvas.” 

Eu, fiquei todo contente e em quatro pulos cheguei a casa, sai da casa do Sr. Abade e num instantinho cheguei a nossa casa, entreguei a esmola da broa a minha mãe, que começou logo a partir a broa para dividir por todos.

Enquanto a minha mãe partia a broa, eu aninhei-me e de gatas, fui buscar as batatas debaixo da cama, para levar ao Sr. Abade. A minha mãe apercebeu-se que peguei em três batatas e meti nos bolsos, uma em cada bolso, e a outra na coirada.

Isso chamou á atenção da minha mãe e perguntou-me, porque peguei naquelas batatas e as escondi. Eu tive de dizer a verdade á minha mãe, do que se estava a passar.

Disse-lhe, que o Sr. Abade me pediu para lhe levar três batatas, mas escondido dos pais, que quando lhe desse as três batatas, dava um cacho de uvas.

A minha mãe, ficou muito espantada e disse: - Aí, o Sr. Abade quer das nossas batatas! Agarrou na medida de carto, encheu-a de batatas, e disse-me: Leva estas batatas ao Sr. Abade que ele tem fome, é para se consolar das nossas batatas”.

Mas, falou com cara de poucos amigos. Estava mesmo zangada.

Eu, é que não compreendi nada, do que se estava a passar. Só mais tarde, é que o meu pai, me esclareceu aquela atitude do servo de Deus. Eu, lá foi todo contente, como levava mais batatas, julguei que em vez de um cacho de uvas, ia receber dois.

Quando cheguei a casa do Sr. Abade, abri a porta e encontrei o Sr. Abade, logo na entrada, sentado nas escadas que iam para a sala, quando me viu com o carto das batatas á cabeça, arregalou-me os olhos, parece que até deitavam fumo, mandou-me pousar o quarto das batatas nas escadas, e disse-me: “ Eu mandei-te trazer três batatas, escondido dos teus pais e tu vens com um quarto de batatas?” confessei-lhe a situação do que tinha acontecido, que tinha que fazer o que a minha mãe me mandou, em vez de lhe dar três batatas, dar-lhe uma medida de carto, cheio de batatas.

O Sr. Abade fitou-me novamente! Disse: Não foi isso que te mandei fazer

“ Puxou-me as duas orelhas e deu-me um grande estalo na cara, e mandou-me levar aquele carto daquelas batatas para casa e entregar á minha mãe.!” .

Em vez do cacho de uvas, o Sr. Abade puxou-me as orelhas deu-me uma grande estalada, não quis as batatas, mandou-me trazer as batatas para entregar aos meus pais. Quando contei á minha mãe, que o Sr. Abade me tinha puxado as orelhas e batido, a minha mãe disse: “Ai, o filho da curta”, era este o termo que as pessoas usavam em vez de dizer o palavrão, filho da mulher da fruta. O Sr. Abade, já não gostava de mim, mas a partir daquela data, ganhou-me mesmo asco.

Também, eu quando via, o Sr. Abade, Já não via Deus. Via outra figura. Vinham-me á lembrança as palavras que o meu avô paterno dizia, quando se embebedava na venda do Zédalem, e se sentava nas escadas do cruzeiro e virado para a residência do SR, Abade José Gomes Júnior, gritava: “Padres e sapos, é caçá-los e matá-los. (leiam, A Venda do Zédalem).

 Eu e mais outro menino, costumávamos ir assistir aos batizados. Era costume, na hora do baptismo, estar um menino, com uma velinha na mão, de cada lado da criança, que ia ser batizada, as velas eram acesas no princípio e apagadas, quando acabava a cerimónia.

No fim do baptizado, os padrinhos ricos, davam uma croa a cada a um, ao sacristão, que tocava o sino, durante o baptismo, davam duas croas. A minha mãe andava sempre a descobrir, em que dia haviam batizados, porque aqueles tostõezinhos, davam para ir á venda do Zédalem comprar alguma coisa, embora em pequena porção, petróleo, macarrão, azeite, …A seguir ao triste episódio narrado atrás, como de costume, a minha mãe soube que ia haver um baptizado, mandou-me fazer o trabalho do costume naquele batizado, o Sr. Abade, quando me viu com a vela na mão de volta do menino que ia ser batizado, apontou o dedo para mim e disse ao padrinho,” Aquele malandro, ó Ambrósio, não dás nada, se lhe deres alguma coisa, eu levo-te dinheiro pelo batizado”.

Fiquei a saber, que o Sr. Abade batizava de borla os filhos dos ricos, mas aos pobres levava dinheiro pelos batizados. O padrinho no fim do batizado, deu dinheiro ao outro menino que segurava na vela e ao sacristão que tocou o sino, a mim na presença do Sr. Abade não me deu nada.

Mas, o padrinho, ao dar aos outros o dinheiro, fez-me um sinal, e eu esperei por ele no caminho, fora da igreja, onde não fosse visto pelo Sr. Abade, o padrinho deu-me o dinheiro, até me deu mais um tostão, do que deu ao outro menino, nunca mais foi assistir a nenhum. Baptizado, porque o Sr. Abade José Gomes Júnior, até aquelas migalhas me tirou.

Os meus leitores, ao lerem, “Memórias da freguesia do Rego”, podem pensar, que estas histórias, não são reais, que era impossível um padre, tratar daquele jeito, as crianças, mas meus caros leitores, estas memórias que estou a narrar, são mesmo reais, leiam com atenção o caso seguinte que vou narrar, felizmente ainda há gente viva, na freguesia do Rego, que pode confirmar este triste comportamento, do sr. Abade José Gomes Júnior.

Naquela época, havia missa todos os dias, mas ao domingo, era o dia, em que a igreja, ficava superlotada e até ficava gente no adro, assistir á missa junto da porta principal.

Os pais levavam os seus filhos de tenra idade, para assistir a missa, iam cedo, para ficarem nos lugares perto do altar, com as suas crianças. Naquela data o Sr. Abade dizia a missa virado para o sacrário, e as costas viradas para o povo, só se virava para o povo, em determinadas vénias, com os braços abertos, num gesto de bênção

Aconteceu, que num domingo, quando o Sr. Abade celebrava a missa, a dada altura, quando deixou de estar virado para o altar e se virou para a assistência, para fazer uma daquelas vénias, viu que uma criança que estava junto ao seu pai, Sr. Manuel Joaquim Ferreira, virou a cara e olhou para traz, para a assistência...

O Sr. Abade, que estava a fazer aquela vénia, desceu as escadas do altar, chegou a beira do pai e da criança e deu uma grande bofetada na cara da criança e voltou para o altar para continuar a missa.

O Sr. Manuel Joaquim Ferreira, afagou o filhinho que estava a chorar e sobe as caleiras do. Altar, chegou junto Sr. Abade, José Gomes Júnior e deu-lhe uma grande bofetada na cara. Fez-lhe igual, como o Sr. Abade fez ao seu filho e voltou para a beira do seu filhinho.

Alguns paroquianos, rapidamente subiram as caleiras em direcção ao altar e socorreram o Sr. Abade José Gomes Júnior, outros agarraram o pai da criança agredida, Sr. Manuel Joaquim Ferreira e levaram-no para fora da igreja e disseram-lhe “Estás preso. Vais ser condenado a pena pesada, pelo crime que fizeste”.

“Agrediste o Sr. Abade em pleno sacerdócio, quando estava a dizer a missa.”

“Cometestes um crime num lugar Sagrado. Agredistes um Servo de Deus”.

Entretanto, o regedor, que por acaso era vizinho daquele pequeno lavrador, que agrediu o Sr. Abade, morava no lugar do Rego junto ao poço do Pedro, e o Regedor morava mais adiante um bocadinho, chamou o agressor, Sr. Manuel Joaquim Ferreira e disse-lhe: “Vai pedir perdão ao Sr. Abade, por aquele crime que cometestes, para ver se ele te perdoa.

Porque, se o Sr. Abade não te perdoar, tens de ser preso e julgado em tribunal.

O pai do menino que foi agredido pelo Sr. Abade, aceitou o conselho do Sr. Regedor e foi a casa do Sr. Abade José Gomes Júnior, pedir-lhe perdão.

O Sr. Abade disse ao agressor, que lhe perdoava, mas, nas seguintes condições:

“No próximo Domingo, na hora da missa e a mesma hora que me agrediste, sobes as escadas e vens ter comigo ao altar, ajoelhas-te e pedes-me perdão. Porque foi a frente de toda aquela gente, que me agrediste e faltaste ao respeito e só te perdoo se fizeres isso:”

O Sr. Manuel Joaquim Ferreira, aceitou a proposta do Sr. Abade e no domingo seguinte, quando ele estava a celebrar a missa, e chegou a mesma hora, que tinha cometido o crime, subiu as caleiras até ao altar, ajoelhou-se e perante todos os paroquianos que assistiam aquela celebração da missa, prostrado de joelhos, pediu perdão ao Sr. Abade….

O Sr. Abade perdoou. Mas passou-lhe uma reprimenda.

Durante o seu longo sacerdócio, na freguesia do Rego, aquele Abade, batizou as crianças que nasceram no Rego e algumas do meu tempo, seguiram os seus estudos secundários. Alguns, foram frequentados em seminários, de onde se ordenaram sacerdotes.

Houve um seminarista, João Crisóstomo, filho do lavrador Zézinho, da casa da fonte, do lugar do Rego, que não chegou a ordenar-se padre, devido ao seu pai, ter assassinado a tiro o lavrador Simão do lugar de Arbonça. 

Isto era o que foi dito naquela altura, por gente que merecia toda a credibilidade.

Que o lavrador, Zèzinho da fonte, do lugar do Rego, matou o lavrador Simão de Arbonça, disso não tenho dúvidas nenhumas.

No caminho, onde o lavrador Simão foi morto, como era costume naquela época, no sítio onde matassem alguém, naquele local, era colocada uma cruz, de ferro ou pedra, para relembrar aquele acontecimento.

Assim aconteceu com a morte do lavrador Simão de Arbonça.

Aquela cruz de ferro foi colocada, uns metros á frente do campo do senhor, do lado esquerdo, no local onde o Simão foi morto.

Por isso se dizia, que o filho do lavrador, Zèzinho da casa da Fonte, não foi ordenado, por o pai ter cometido aquele crime.

Tive conhecimento, que o filho Crisóstomo, saiu do Seminário, e seguiu outra carreira.

Alguns Párocos, naturais da freguesia do Rego, felizmente ainda estão vivos, como o Senhor Padre João Alves da Mota, o Sr. Padre Jesuíta, Domingos Monteiro da Costa, e outros que devido a minha idade de 89 anos, não me lembro dos seus nomes,  

Mas, todos os párocos naturais da freguesia do Rego, com a exceção do Sr. Pároco Domingos Monteiro da Costa, estiveram presentes, no cinquentenário de sacerdócio, do saudoso Sr. Padre António Gomes Lima, na celebração naquela missa realizada na freguesia do Rego, como podem reconhecer nas fotos, que publico daquele evento.

 Também esteve presente, o saudoso Sr. Cónego Fernando Teixeira Alves Monteiro, nascido no lugar de Vilaboa, filho de José Alcídio Alves Monteiro, durante o Seu Sacerdócio, esteve atento. aos problemas das pessoas mais carenciadas.

Foi dos primeiros Párocos a criar um Centro Social...


Foto de Ambrósio Lopes Vaz




Foto de Ambrósio Lopes Vaz

Todos os Padres naturais da freguesia do Rego,, prestaram e continuam a prestar um bom serviço , ás comunidades das Paróquias onde exercem o seu sacerdócio. 

Pelas suas Obras, prestigiam as organizações onde estão inseridos e honram a freguesia do Rego, donde são naturais,

 


Lançamento de bombas na Residência Paroquial.   

A P.I.D.E invadiu a freguesia do Rego e prendeu muitas pessoas.

 

No dia 10 de agosto de 1946, morreu o Sr. Abade José Gomes Júnior e deixou documento de última vontade.

Com o seu óbito, habilitaram-se á sua herança, os herdeiros que constavam no testamento, a senhora Albertininha e a filha Júlia, como únicos e legítimos herdeiros.

Mas, o professor José Gomes, filho do Sr., Abade José Gomes Júnior e da Senhora Albertininha, requereu a sua paternalidade, que lhe foi reconhecida e habilitou-se também como herdeiro legitimo.

A Senhora Albertininha, mãe do professor José Gomes, sanou aquele problema da herança e fizeram as partilhas entre os três herdeiros.

Entretanto, o Senhor Arcebispo de Braga, nomeou o padre Mário Xavier Rodrigues para paroquiar a freguesia do Rego, em substituição do citado falecido Abade. Quando o Padre Mário Xavier Rodrigues chegou á freguesia do Rego, para exercer o seu sacerdócio, a freguesia não tinha residência para o albergar, naquele momento, os paroquianos da freguesia do Rego, tiveram conhecimento que a residência e o passal não eram propriedade da paróquia. 

Já tinha deixado de o ser há trinta e seis anos.

Como a paróquia não tinha residência paroquial, o novo pároco Padre Mário Xavier Rodrigues, foi albergado na Casa do Vicente de Bolada. Naquela casa do lugar de Bolada, também ali tinham nascido e vivido dois padres, o padre Francisco e o padre Manuel e suponho que um deles também paroquiou a freguesia do Rego.

Como o padre Mário Xavier Rodrigues não tinha residência própria, para viver á sua vontade, sem promiscuidade com as sobrinhas, as criadas ou outras mulheres, como aliás era costume a vivência dos párocos nas aldeias. 

Na casa do Vicente de Bolada não se sentia bem. 

O lavrador Russo da Tomada, fez obras no alpendre e criou ali as condições para nova residência para o padre Mário Xavier Rodrigues.

Mas, a ambição do novo pároco, era a antiga residência da paróquia. Para atingir o seu objetivo, começou a incitar os paroquianos, para se revoltarem contra os herdeiros do citado Abade José Gomes Júnior, para os obrigar a entregar a residência á paróquia.

Os habitantes da freguesia do Rego, pobres ou ricos, naquela época eram todos muito tementes a Deus, faziam o que o Sr. Abade mandava, começaram a ameaçar a Sra. Albertininha e a filha Júlia, usando métodos soezes, de perfeita provocação.

O padre Mário Xavier Rodrigues não parava de criar ódio, entre os herdeiros do falecido Padre e os paroquianos.

 A dada altura, pela calada da noite, alguns paroquianos, lançaram bombas na residência do antigo pároco José Gomes Júnior. Aquelas bombas abriram um grande rombo no telhado da casa da Sra. Albertininha e dos filhos e causaram prejuízos elevados.

Aqueles paroquianos, demoliram o espigueiro, destruíram coisas de valor… A sra. Albertininha e a sua filha Julinha, ficaram assustadas e trespassadas de medo, abandonaram a sua residência e foram viver para  casa do filho José Gomes, em Fafe.

Como aqueles crimes atingiram determinadas proporções, entrou em acção a PIDE e a GNR, aqueles crimes, eram do foro policial da GNR, mas aquele caso, foi entregue á PIDE, conjugada pela GNR, e a autoridade local o regedor, que na altura era o conhecido Lopes da Casa do Povo, por ele ter sido lá funcionário.

A PIDE, invadiu a freguesia do Rego, e efetuou muitas prisões, alguns eram vizinhos dos meus pais. Para transportar os presos, iam dois camiões, um da GNR e outro da PIDE, ficavam estacionados, no fim do lugar de Pedroso, junto á ponte. 

Quase todos os dias, a PIDE efetuava prisões na freguesia do Rego, em conformidade com as informações locais, que recebia do Regedor Lopes e outros.

Os presos, antes de ir para os camiões, eram levados para este prédio, para a casa do povo, onde a PIDE fazia os primeiros interrogatórios, depois eram metidos naqueles camiões e levados para as masmorras da PIDE na cidade do Porto, onde foram barbaramente torturados.

                                                                                Com as devidas vénias do Autor


Edifício da Ex PIDE/DGS da cidade do Porto

Ao fim de várias semanas de tortura, houve um preso que não aguentou mais aquelas crueldades e confessou á PIDE quem tinha lançado as bombas e destruído o espigueiro… A PIDE a partir dali. ainda mais torturou os prisioneiros da freguesia do Rego, porque sabia, tudo o que se tinha passado e quem foram os autores que tomaram aquelas decisões. O Sr. Joaquim Lopes de Carvalho e o seu irmão, António Lopes de Carvalho, conhecidos no lugar de Vilaboa pelos “pocinhos”, e o antigo regedor Custódio, foram os mais sacrificados. 

A PIDE não os deixou em paz, enquanto não confessaram o crime que fizeram.

O crime que os meus conterrâneos cometeram, não era um crime político, porque todos aqueles prisioneiros, até eram salazaristas, aliás como ainda hoje, na freguesia do Rego e noutras freguesias, há muitos saudosos daquele regime. Mas como o crime que cometeram atingiu aquelas proporções, o Salazar, entregou aquele caso á PIDE, para que os presos fossem tratados como prisioneiros políticos.

Como a PIDE, já conhecia todas as ocorrências, sabia quem foram os seus autores, os prisioneiros todos confessaram o crime e comprometeram-se perante a PIDE, a reparar os prejuízos causadas na residência e no espigueiro da Sra. Albertininha e dos filhos e deixarem os herdeiros em paz.

Não foram a julgamento. Foram soltos e regressaram ás suas casas, mas os estragos causados na consciência daquelas pessoas que foram presas, perduraram na memória daquela gente durante muito tempo, alguns prisioneiros, homens honestos e sérios, a passagem pelas masmorras da PIDE, deixaram sequelas, que alguns morreram pouco tempo depois, como o caso do Sr. António dos Pocinhos.     

O padre Mário Xavier Rodrigues, também era chamado ao edifício da PIDE no Porto, quase todos os dias, para prestar declarações. Mas, nunca foi preso nem julgado, embora na minha opinião, foi o responsável por aquela desgraça que aconteceu aos meus conterrâneos que foram presos. Porque em vez de apaziguar e resolver aquele assunto tão melindroso, cada vez incendiava mais o povo para o levar a cometer aqueles crimes, por isso, foi o responsável por aquela tragédia. Os herdeiros do falecido Abade José Gomes, acabaram por se entender na cedência daquela residência para o padre Mário Xavier Rodrigues. Desconheço aquele acordo.

Não sei, se acordaram com os herdeiros, habitarem a residência até á morte do último herdeiro e depois a residência, voltar a ser da freguesia, ou se a freguesia fez a compra, com a condição dos herdeiros continuarem até á morte., Desconheço.

O padre Mário Xavier Rodrigues paroquiou a freguesia do Rego, durante 15 anos, mas nunca conseguiu sarar as feridas que causou á comunidade do Rego. Só o seu substituto, saudoso Padre António Gomes Lima, que tomou posse em 1962, é que conseguiu conciliar as Comunidades da Freguesia do Rego. Paroquiou a freguesia do Rego desde o ano de 1962 até ao seu falecimento, 8 de outubro de 2017.

                                                        Com a devida vénia do Autor

Visito a aldeia a miúdo.Quando encontrava O Sr. Padre Lima, ficávamos os dois a conversar, a trocar impressões, de vários assuntos. O saudoso Padre Lima, conhecia muito bem os meus ideais. Mas respeitava-os. Por isso, o admirava muito. Era um Homem simples. De tarde, ia jogar a sueca para venda do Sr. Guedes, mas antes parava na venda do do Sr. Monteiro, e jogava duas ou três partidas de sueca. 

Cheguei a jogar a sueca e as damas, na venda do dalém,  com o Sr. Padre Lima.

Guardo muitas boas recordações da cavaqueira que tínhamos, quando nos encontrávamos. PAZ Á SUA ALMA.  


A Igreja da Freguesia do Rego, enfeitada e superlotada de fieis, no dia, que o Senhor Padre António Gomes Lima, celebrou os seus 50 anos do seu sardócio. 


Ambrõsio Lopes Vaz






  Caros amigos, amigas e seguidores do blog “Memórias da freguesia do Rego- Celorico de Basto”, comunico a todos que as “Memórias da fregues...