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sábado, 9 de janeiro de 2010
A festa do Padroeiro São Bartolomeu do Rêgo
sábado, 2 de janeiro de 2010
As Festas da Aldeia do Rêgo
* * * * *
O meu amigo Armindo Gonçalves, seguidor das Memórias do Rêgo, pediu-me para fazer um Post dedicado à Lavoira dos Cães da festa do São Bartolomeu do Rêgo, que se fazia na minha infância.
Aceitei. Mas entendo que não devo melindrar os outros santos que também têm as suas capelinhas em São Bartolomeu do Rêgo e nem todos os santos têm direito a festa.
Para mim, todos os santos, merecem o mesmo respeito, sejam de madeira, barro ou outros materiais.
Por isso, os lembro aqui, para eles saberem que o Ambrósio não os esqueceu.
Lembro também, a Senhora do Viso, que, embora não pertença à freguesia do Rêgo, porque a capela está situada na linha de divisão de Caçarilhe e Rêgo, o povo do Rêgo ao longo dos tempos, vem considerando a Festa da Senhora do Viso, como sendo pertença da freguesia do Rêgo.
Na paróquia de São Bartolomeu do Rêgo, naquele tempo, além da igreja, conheci três capelinhas, São Pedro, no lugar de Arbonça, Senhora da Saúde no lugar da Lameira e São Bento, no lugar de Quintela.
Cada santo tinha a veneração dos seus devotos, conforme as necessidades espirituais e credibilidade dos seus admiradores.
O São Bento que protegia as pessoas dos bichos peçonhentos e as livrava dos maus vizinhos do pé da porta, nunca lhe fizeram festa e até a capela estava abandonada.
O Apostolo São Pedro, segundo as crenças e lendas antigas que através dos séculos vêm sendo transmitidas de geração para geração, é o responsável das chaves, para abrir as portas do céu às almas.
Apesar de ter uma missão das mais importantes, era a festa menos concorrida e quase passava despercebida, não fosse o povo de Arbonça, nunca deixar andar os seus créditos por mãos alheias.
No dia da festa havia missa na capela e de tarde, rezava-se o terço e faziam novenas.
A noitada era festejada pelos jovens e também alguns idosos.
A casa de lavoura, do Simão de Arbonça, era responsável por zelar a capela e nunca deixou que o dia de São Pedro caísse no esquecimento.
A lavradeira, Arminda do Catalão, que casou com o Simão de Arbonça, foi durante anos, uma das responsáveis pela manutenção da capela.
Morreu no hospital de São João no Porto, e dois dias antes da morte, pediu-me para dizer à família, que determinada quantia de dinheiro guardada em tal sítio, (...) era proveniente de esmolas e promessas e pertencia ao São Pedro.
Transmiti aquela última vontade da Arminda do Catalão, à sua mãe Albininha do Catalão.
Curiosidade
O verdadeiro nome do apóstolo Pedro, era Simão, mas como havia outro apóstolo com o mesmo nome, os outros apóstolos chamavam-lhe Pedro e ficou para sempre conhecido por Pedro, e quiz o destino que na paróquia de São Bartolomeu do Rêgo, a Casa Simão de Arbonça, não deixasse cair no esquecimento o Apostolo Simão, que foi considerado o príncipe dos apóstolos.
Festa e Feira anual da Senhora da Saúde,lugar da Lameira
A Senhora da saúde, era a protectora da saúde dos seus crentes.
Não é por acaso, que das três capelas existentes na freguesia, a da senhora da saúde, é a mais importante e mais bonita.
Era na capela da Nossa Senhora da Saúde
no lugar da Lameira que se dizia a missa e se prestavam todos os actos fúnebres
aos defuntos da Freguesia do Rego, antes de ser construída a atual igreja da
paróquia do Rego, porque nessa altura a paroquia do Rego pertencia A POMBEIRO,
no concelho de Felgueiras.
A igreja da paróquia do Rego, segundo os
dados existentes só foi construída a partir do ano de mil setecentos e tal… foi
a partir dessa data que a capela deixou de fazer lugar da igreja matriz.
Altar-mor da capela da Senhora da Saúde, lugar da Lameira
Depois da construção
da Igreja, o senhor abade continuou a celebrar na capela, uma missa ao domingo, para
o povo do lugar da lameira, pedroso e Arbonça, que ficavam mais distantes da
igreja paroquial.
Nossa senhora da Saúde, era a todo o instante, lembrada pelo povo. Era aquela santa, que nas horas de aflição, o povo se apegava.
Quando as doenças eram mais graves, os familiares prometiam à Senhora da Saúde, promessas bastante complicadas para cumprir.
Uma delas, era no dia da festa, deslocarem-se a pé, das suas casas, até ao recinto da capela, sem fala.
Durante o percurso não podiam falar para ninguém.
Vinha gente de muito longe, chegavam a caminhar 60 quilómetros,sem falar, para cumprirem as promessas sem fala.
Aqueles e aquelas, que podiam falar, cantavam canções religiosas, “Queremos Deus”, “Miraculosa Rainha dos Céus” e outras canções religiosas.
As pessoas que iam a cumprir as promessa sem fala, levavam uma flor na boca, para não se esquecerem das promessas e dar sinal às pessoas que se cruzassem no caminho,que,iam a cumprir a promessa sem fala.
A festa era muito concorrida.Com uma pomposa procissão, organizada com todos os requisitos, saía da capela e seguia o trajecto até ao estradão que ia para Pedroso, e depois regressava à capela. Durante o percurso a estrada nacional era cortada ao trânsito e originava longas filas de carros, porque era a única estrada que existia.
Os forasteiros vinham de vários concelhos. Alguns vinham em grandes ranchos, com as suas tunas, características das regiões donde moravam. Traziam harmónicas, ferrinhos, realejos, tambores, gaitas e violas. Nos lugares onde passavam, o povo saia das casa para os ouvir.
Uns vinham para cumprirem promessas e outros para fazerem os seus negócios, porque no dia daquela festa, havia de tudo.
O dia da festa, era também dia de feira anual, onde se vendia e comprava todo o tipo de gado, bovino, caprino, ovino, galináceos, etc…Vendiam também alfaias para a lavoura, arados,gadanhos,engaços,forquilhas,picaretas,alviões,machados,crivos,peneiras,roupas, calçado etc.
O dia em que conheci a festa e a feira anual, foi muito feliz para mim.
Nunca mais o esqueci.
Na véspera da festa, a senhora Albininha do Catalão, pediu à minha mãe, se deixava eu ir “chamar” uma junta de vacas, das cortes, situadas na mouta da mangarela, até à feira da Lameira.
Feira de Gado Barrosão. Com a devida vénia do Autor.
A casa onde morava o Sr. António Catalão e Sr.ª Albininha e onde nasceram as filhas, Elvira e Arminda, ficava junto à casa da tomada, ao fundo do caminho, que vinha do poço da fonte, sair aos currais, e que ainda hoje existe. Embora intransitável.
Todo acanhado, lá apareci e fiquei à porta, como de costume, quando ia pedir a esmola. A Senhora Albininha logo que me viu, mandou-me entrar e sentar-me num banco, junto à mesa. da cozinha..
Era uma mulher destemida e muito somítica, mas, naquele dia tratou-me como família. Comi comida igual à deles. Foi um fartote. Tirei a minha barriga de misérias. Nunca mais me esqueci daquele dia.
Vim mais tarde a conviver com as feiras mensais, duas por mês e a festa e feira anual, quando fui servir para a Lameira, na casa do Albino do Alves, (conhecido por “penico”) casado com a senhora Maria do Joana, filha dos Joanas do lugar de Bolada, que me contou varias histórias reais, do meu avó e do meu visavó, paternos, de Bolada.
Esta casa de lavoura, era muito conhecida, no lugar da lameira, porque tinha um boi barrosão, de cobrição e os lavradores e caseiros, do Rego e doutras freguesias, iam lá levar as vacas ao boi.
Com a devida vénia do Autor.
Como todos se faziam acompanhar da racha de lódo, por dá cá aquela palha, começavam a zaragata. Era rara a feira que não houvesse barulho e alguns saiam de lá com uma grande polinheira.
O meu amo, em vez de receber a paga do seu trabalho, era mimado com umas landreiradas e aparecia em casa mais cedo, com a cabeça partida, e o canastro todo empenado. Era muito fraquinho no jogo do pau. Nunca aprendeu o contra-jogo.Embora, todos os domingos, lá em casa, era feito o ensino do jojo do pau aos jovens.
Festa da Senhora do Viso
A capela da Senhora do Viso está construída na demarcação das freguesias de Caçarilhe e Rêgo, mas pertence a freguesia de Caçarilhe, porque está situada dentro do seu limite.
Capelas da senhora do Viso com a devida vénia do autor
A minha avó, mãezinha de Bolada, era muito beata, ia todos os dias a missa. Contou-me que a senhora do viso, tinha oito irmãs, que nasceram nove dum ventre, e como foram todas santas, "foi combinado" construir as capelinhas, onde ficassem a ver umas às outras e na altura falou no nome delas, senhora da graça, senhora da saúde, senhora das neves etc.
Segundo a lenda, que vem sendo contada, de geração em geração, a Senhora do Viso é responsável pelo nosso juízo.
Quando eu dizia palavrões, considerados pecados, ouvi muitas vezes as pessoas idosas e a minha mãe, dizerem: Deixa-te de tolérias, o pão de Deus cria de tudo.
Pede à Senhora do Viso que te dê juízo.
Foi sempre uma festa muito frequentada por gente de todas as idades, das freguesias de Celorico de Basto e dos concelhos vizinhos. Os romeiros vinham ali satisfazer variadas promessas. Dar a volta ao redor da capela de joelhos, novenas, que era dar nove voltas ao redor da capela, rezar o terço junto ao seu altar e outras orações.
Havia também a promessa do morto, que era meter a pessoa viva, dentro dum caixão, tal e qual como se estivesse morto e dar as voltas prometidas com o “morto” dentro do caixão, ao redor da capela, como se fosse um funeral, acompanhado por varias pessoas
Os caixões eram alugados ali no recinto pela Comissão de Festas, aquelas pessoas que tinham de cumprir aquele tipo de promessas.
Aparecia naquela festa, o primeiro vinho doce. Era transportado para o recinto em pipas colocadas em carros de vacas, onde era vendido em tigelas e canecas.
Alguns romeiros, levavam cabaças e odres para comprar vinho doce, para trazer para casa.
Naquela época e naquele dia, eram ali vendidas melancias, melões e outras frutas e também vários doces, cavacas, rosquilhos, rebuçados de mel etc. Além das tasquinhas de comes e bebes cobertas por toldes instaladas no recinto.
A ordem era assegurada pela Guarda Nacional Republicana, que tinha grandes dificuldades em manter o recinto da festa sossegado.
A certa altura perdia mesmo o controle e limitava-se a proteger a capelinha de qualquer profanação ou estragos.
Naquela data, era na festa da Senhora do Viso, que o povo de São Bartolomeu do Rego, fazia os ajustes de contas, que se iam acumulando durante o ano. Roubo da namorada, tornas de água, negócios, falta de cumprimento da palavra, e outras pulhices.
No acto da infracção, o lesado lançava a ameaça. No Viso pagas.
Todos os homens e moços novos que iam à festa, iam munidos, cada um, com a sua racha de lodo, e quem não levava a racha de lodo, comprava no próprio recinto.
Pelo caminho para a festa, aqueles que iam já com intenções de saldar contas, por vezes cruzavam-se com os “devedores” e seguiam todos juntos na grande galhofa, fingindo serem todos amigos.
No recinto iam gozando a festa e saboreando os petiscos acompanhados por uns bons cartilhos de vinho.
Depois de bem bebidos, ao fim da tarde começavam as provocações. Os provocadores; de tigela na mão, cheia de vinho, dirigiam-se aqueles que pretendiam aquecer o lombo e ofereciam-lhe o vinho. Como eles não aceitavam, os desordeiros esbarravam-lhe com a tigela cheia de vinho, nas bentas. Outras vezes ao passar davam-lhe um empurrão.
As rachas começavam a trabalhar e o povo fugia para não ser atingido.
A zaragata estendia-se por parte do recinto.
A Guarda Nacional Republicana, como não conseguia pôr termo à desordem, sacudia-os para fora do recinto da festa.
Mas, o jogo do pau
Encostavam-no a uma borda e ele ficava a ali a sonhar com coisas bonitas, até desacordar ou aparecer algum caminhante que o socorresse.
Porém, se o ferido não acordasse mais e ficasse a dormir eternamente, para o lembrar, era colocada naquele sitio, uma cruz ou umas alminhas.
Na Senhora do Viso, não dizia a letra com a careta, porque quando começavam a bater, malhavam sem dó nem piedade. Tinham pouco juízo.
Ambrósio Lopes Vaz e minha esposa Maria de Lurdes Marques Fernandes Caseira
O meu carocha
estacionado junto a borda do Pereira e a casa da minha mãe numa das minhas
deslocações a casa da minha mãe, seguintes ao falecimento do meu pai.
Ambrósio Lopes Vaz
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