Migração e trabalho Comunitário.
Os jornaleiros iam trabalhar para o
Porto e Aveiro, em trabalho sazonal
onde tinham garantia das jornas de
Maio a Setembro.
Os criados de servir, também migravam
para essas localidades. Onde eram ajustados ao mês com salário, que era muito
maior, que na aldeia.
De criados de servir, passavam para
operários e por lá ficavam, como o meu caso...
Também havia migração para o Douro no
tempo das vindimas, apenas para trabalhos sazonais.
Mesmo, sabendo que iam sujeitar-se a
trabalhos de grande esforço, o povo aproveitava todas as oportunidades, onde
pudessem ganhar umas croas para sustentar a família e pagar algumas dividas,
que deviam na venda e atenuar a miséria em que viviam.
Com a devida vénia do Autor.
Foto - Esposa do Ferreira de Bolada, Jornaleira- Mulher a dias,Criada- Lurdes, padeira-Vendedora de trigo e a filha do ferreira de Bolada, esposa do Abel Pimenta.
Trabalho Comunitário
Os lavradores e caseiros, agrupavam-se para fazerem as grandes vessadas,
cegas de centeio, roçadas de mato, espadadas de linho, esfolhadas
e malhadas de cereais e até sachas. Cada um levava os seus criados, gados,
apeirias e alfaias.
Trabalhavam em comunidade para não pagarem a jornaleiros, só os chamavam em
última necessidade e para fazerem os trabalhos mais pesados. Viviam das
colheitas dos campos e dos gados que vendiam.
Alguns jornaleiros tinham que andar a lamber as botas aos grandes
senhores, para serem eles os preferidos, porque a oferta de jornaleiros era
enorme.
A única indústria que havia, na freguesia do Rego, era a serração do
Casimirinho da Venda. O povo vivia miseravelmente.
Nos meses de inverno, os jornaleiros pareciam cães esfomeados dentro da
casota. Os pequenos lavradores e caseiros, não chamavam os jornaleiros, porque
muitas vezes não tinham dinheiro para lhes pagar as jorna
Não conseguiam vender o produto das
terras, o feijão, milho, batatas, centeio, relva e painço e até a linhaça, eram
vendidos directamente ao negociante, quando ele aparecia para os comprar.
A venda dos bezerros, potros, mulas, muitas vezes, era reservado para os dotes de casamento, compra de mais vacas, por vezes mais uma sorte, e também o cordão, as pelicanas e a corrente com medalha.
As despesas da manutenção das terras, casas, criados, jornaleiros, décima,
doenças e vestimenta, eram pagas com a venda do gado miúdo, bacorinhos,
cabritos, anhos, frangos, perus e coelhos.
As galinhas, pitos, perus e coelhos, eram vendidos nas feiras, de
Fafe, Carvalho, Lameira e por vezes Fermil. As feiras de Fafe, Fermil e
Carvalho, ficavam a muitas léguas de distância. A feira mais preferida era
Fafe, onde tudo se vendia e tudo se comprava.
Mas, para qualquer feira que fosse, a criada acompanhada dos amos, levava uma saca de dois alqueires á cabeça, que podia ser, feijão, centeio, batata ou milho e uma cesta no braço, com bicharia, coelhos. galinhas. Os amos também levavam produtos para vender.
A ama, levava uma saca de burel, com taleigos dentro, de linhaça, painço e relva.
A manteiga e nata, iam numas malguinhas
dentro dum cestinho.
Na aldeia ninguém comprava nada. Os pobres que tanto
precisavam daqueles produtos, não tinham dinheiro para os comprar.
Quando surgia alguma calamidade, em anos fracos de produção, até os
caseiros tinham mingua. Naquele tempo não haviam nenhumas ajudas do governo.
Cada vez, havia mais indigentes, viviam em
pequenas choças, com ranchadas de filhos, a viverem numa única divisão, sem
retrete, como a casa dos meus pais, dez irmãos a defecarem dentro de casa
e á porta de casa, quando eramos crianças, quando
começamos a andar, fazíamos as necessidades, no meio da horta, igual aos nossos
pais.
A parte
detrás da casa dos meus pais. onde nascemos e fomos criados.
Uma pequena divisão, que fazia de cozinha e sala. Tínhamos uma pequena horta, mas as couves para fazer o caldo, desapareciam rápido, não chegavam
para nada.
Só nos restava uma saída, pedir esmola, nos lugares da freguesia
e freguesias vizinhas.
Não éramos só nós. Assim acontecia a todas as crianças pobres, que
viviam nas mesmas condições.
A frente da casa onde nasci, e a minha mãe á entrada da nossa Horta.
Com a devida vénia do Autor
Com a devida vénia do Autor
Vivíamos numa perfeita enxovia e escravidão. Sem pão, sem roupa.
Com as devidas Vénias dos Autores
Por estas fotos se pode ver, como esta gente vivia naquela época.
Aquela miserável situação, nada
tem haver com a vida que vivemos hoje.
Fico triste, quando ouço gente do povo a dizer: "Dantes é que era bom. Que saudades!"


Não tínhamos lenha
para acender o lume, para cozinhar o caldo, e para nos aquecermos no
inverno. Todos os lavradores tinham moutas.
Não faltava lenha, mas os donos andavam sempre a vigiar as coutadas e se fosse visto, alguém a retirar lenha, tiravam-lhe a lenha e agrediam as pessoas e por vezes, faziam queixa ao Regedor, para ele prender as pessoas.
Foi á mouta do senhor António do Nunes e
cortou três galhas num carvalho. Quando vinha para casa, ao passar junto
aos campos do citado senhor António Nunes, ele tirou-lhe a lenha e deu-lhe três
pancadas nas costas, com o cabo da enxada, que trazia ao ombro. Eram tempos de
extrema miséria. Tempo da Ditadura fascista.
A maioria dos lavradores e caseiros, residentes naquela altura, no lugar de
Vila Boa, eram humanos. Quando pressentiam, que havia doença grave na casa
dos pobres, mortes, prisões, incêndios, eles apareciam a prestar ajuda ás
famílias.
Não davam dinheiro, mas davam bens essenciais para ajudar
a atenuar aquelas desgraças.
Destaco as lavradeiras Claudina Pereira, Rosinha do Catalão, António Pereira e esposa Maria Pereira, filha Maria Glória, Maria Emília dos Pocinhos, Cândida do Nunes e marido e os Nunes de cima marido e esposa que não me ocorre agora o nome, que eram nossos vizinhos e a casa das Catanas onde todos os dias iamos pedir esmola.
Algumas lavradeiras citadas levavam a nossa casa, travessas de restos de comida para nos matar a fome e muitas vezes broas de pão e panelos cheios de nata.
A sua presença dentro da casa dum
indigente, representava muito. Foram muitos aqueles, que nos prestaram
solidariedade. Mesmo nas famílias, que não gostavam dos indigentes,
existia um filho, que escondido dos seus pais, dava
pão ao filho dos Indigentes e até dinheiro.
O Inacinho do Marialves,
meu companheiro de escola, todos os dias me dava um pedaço de broa. Estudávamos
junto ao espigueiro, em frente da casa, ele sabia que passávamos fome,
quando o pai lhe dava uma coroa ou duas, dávamos e dizia para eu ir á
venda, comprar comida para os meus irmãos.
Um dia deu-me três croas, o pai
descobriu, deu-lhe uma grande coça e levou-me á presença do
Inacinho e agrediu-me. Proibiu o filho de falar comigo ou acompanhar-me.
Fiquei triste por perder aquele amigo.
Nunca mais o esqueci. Sempre que ia á aldeia,
perguntava á minha mãe, se tinha notícias do Inácio do Marialves. Ela disse-me
que ele seguiu a tropa e que casou com uma professora.
Passados 55 anos, o Inacinho deu á minha
mãe, uma garrafa de aguardente, para ela entregar ao amigo Ambrósio. Obrigado
Inácio por continuares meu Amigo.
Costumes usados naquela época- Moinhos
Os lavradores tinham um moinho
comunitário. Cada um moía no seu dia. Também havia quem tinha moinho próprio,
só para si, e quem tinha moinho próprio e moía para a comunidade por
maquia, distribuía as farinhas aos fregueses porta a porta, transportadas
por mulas ou jumentos, como o moleiro Cristiano Cunha e outros.
A mó do
moinho a moer e o moleiro a apanhar a farinha para o saco.
\Os moinhos do Vilaboa, a ser visitados por três ilustres turistas!
Com a devida Vénia do Autor
Águas de consortes
Poças de consortes. Cada consorte, tinha os seus dias ou horas de água, A água tinha hora certa para as tornas. O relógio usado, era o relógio de Sol, porque poucos tinham relógio. Quando não havia Sol, era mais complicado, tinham que pedir um relógio emprestado, a quem o possuía, para ir tapar e abrir, as poças á hora certa.
Era naquele poço da fonte, junto mesmo onde caia a água fresquinha da nascente, que as lavradeiras Rosinha do Catalão, a filha Maria Emilia dos Pocinhos, a nora Albininha do Catalão, a Claudina da casa do Pereira e outras, faziam ali a sua bela manteiga, separando a manteiga da nata.
Levavam uns grandes panelos cheios de leite coalhado e numa vasilha com um furo na tampa em cima, enfiavam um pau naquele buraco e batiam aquele leite durante horas, até conseguir separar a manteiga da nata.
De vez em quando, as lavradeiras tiravam a tampa e com uma colher, iam tirando a parte de cima da manteiga e metiam numas malgas pequeninas.
O autor do blog foi relembrar o passado. foi beber água a fonte.
Este uso de tapar e
abrir a poça, praticamente só funcionava nos meses de verão, para a rega de milhos,
batatas e linhos. Nos meses de inverno, as poças de consortes, abriam-se
e tapavam-se por elas próprias, por meio dum engenho de pedra feito
pelos pedreiros.
Poças de consortes que eu conheci, poça das latas, poça das lebandeiras, poço da fonte, poço da fontalta e poço dos pocinhos, este poço ficava mesmo dentro do quinteiro da casa dos pocinhos e era consorte daquele poço, a senhora Claudina Pereira, Casa do Pereira.
É possível que o poço da fontalta também
fosse de consortes. Não sei...
Também existia a água da levada de
consortes, que saia do rio e vinha regar os campos de Vilaboa, do Cunha,
Russo, Marialves, Catanas, Catalão e muitos outros. Como esta água não estava
aprisionada, podia-se regar a qualquer hora, pelo que, muitas
vezes, os campos eram regados de noite á luz da Lua. As
maiores zaragatas e demandas, tinham origem nas águas de consortes. Houveram
muitas sacholadas e até mortes.
Algumas medidas que usavam na venda e
medidas das produções
Medidas de secos, Carro, (correspondia a 40 alqueires ou rasas) rasa, meia rasa, quarto, meio quarto e quartinho e maquia, e razão.
Medidas de peso (b), quintal, arroba. Arrátel, meio arrátel e outras.
Medidas de líquidos, pipa, meia pipa, pipo,
almude, cântaro, canada, meia canada, quartilho, meio quartilho e
quarteirão).
Valores usados na compra de artigos, uma libra, um milrei, uma croua, um quartinho, um cruzado, sete e meio, o vintém e o real.
Matança do porco e o presente levado a
casa dos pobres.
As casas abastadas matavam três porcos,
nas outras matavam dois e os caseiros um. Os pobres quando ouviam os
porcos a berrar, punham-se a escutar donde vinha o barulho.
Naqueles lugares pacatos, onde só se ouviam os pardejos e o berro dos gados, aquele berro, da morte dos porcos, era diferente de todos os outros.
Alegrava os pobres, iam receber o presente tão ansiado.
O mês de Janeiro era o fim para os suínos. Mas também se matavam porcos em Fevereiro. Quando as casas eram muito juntas, os pobres não distinguiam qual foi o lavrador que fez a matança, mas depressa se desfazia a dúvida, quando se viam os fentos arder e a chamuscar os porcos nas eiras.
Todos os lavradores e caseiros do lugar
de Vilaboa, davam o presente aos meus Pais, com excepção do Russo da
Tomada e o Marialves. Mandavam as filhas ou filhos levar dentro duma malga
ou prato, um bocado de carne, um bocado de sangue e ás vezes um sibinho
de redenho. A minha mãe, metia dentro da malga ou prato, dois tostões.
Também a Senhora Emilinha Ferreira, do lugar de Quintela,
quando matava os porcos, guardava o presente para os meus pais e quando eu ia
lá, pedir a esmola, ela dava o presente junto com a esmola.
Era a mãe dos pobres.
a) as palavras que prenuncio, são
exatamente as usadas pelo povo, naquela época.
b) Algumas medidas de peso eram feitas
de calhaus, a pesar dois kilos, um Kilo, meio kilo, depois de ter aquele peso
certo, eram metidas nuns saquinhos de pano com uma presilha para engatar na
balança romana, que as farrapeiras traziam dentro dos seus açafates quando
andavam de porta em porta a comprar o pano como o caso de Josefa Pires, que
morava no lugar de Bolada, minha avó paterna.
Ambrósio Lopes Vaz
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