quinta-feira, 23 de setembro de 2021

 

Trabalho Comunitário

 

Migração e trabalho Comunitário.

 

Os jornaleiros iam trabalhar para o Porto e Aveiro, em trabalho sazonal

 onde tinham garantia das jornas de Maio a Setembro. 

Os criados de servir, também migravam para essas localidades. Onde eram ajustados ao mês com salário, que era muito maior, que na aldeia. 

De criados de servir, passavam para operários e por lá ficavam, como o meu caso...

Também havia migração para o Douro no tempo das vindimas, apenas para trabalhos sazonais.

Mesmo, sabendo que iam sujeitar-se a trabalhos de grande esforço, o povo aproveitava todas as oportunidades, onde pudessem ganhar umas croas para sustentar a família e pagar algumas dividas, que deviam na venda e atenuar a miséria em que viviam. 




Com a devida vénia do Autor.                                                                                                                                                                                          

                                                           

 Com a devida vénia do Autor.
  

Foto - Esposa do Ferreira de Bolada, Jornaleira- Mulher a dias,Criada- Lurdes, padeira-Vendedora de trigo e a filha do ferreira de Bolada, esposa do Abel Pimenta.

 Naquela casa de lavoura, do Ferreira de Bolada o meu pai trabalhava como jornaleiro dois dias por semana, durante o Inverno.

Trabalho Comunitário 

Os lavradores e caseiros, agrupavam-se para fazerem as grandes vessadas, cegas de centeio, roçadas de mato, espadadas de linho, esfolhadas e malhadas de cereais e até sachas. Cada um levava os seus criados, gados, apeirias e alfaias

Trabalhavam em comunidade para não pagarem a jornaleiros, só os chamavam em última necessidade e para fazerem os trabalhos mais pesados. Viviam das colheitas dos campos e dos gados que vendiam.

 Alguns jornaleiros tinham que andar a lamber as botas aos grandes senhores, para serem eles os preferidos, porque a oferta de jornaleiros era enorme. 

 A única indústria que havia, na freguesia do Rego, era a serração do Casimirinho da Venda. O povo vivia miseravelmente.

Nos meses de inverno, os jornaleiros pareciam cães esfomeados dentro da casota. Os pequenos lavradores e caseiros, não chamavam os jornaleiros, porque muitas vezes não tinham dinheiro para lhes pagar as jorna

Não conseguiam vender o produto das terras, o feijão, milho, batatas, centeio, relva e painço e até a linhaça, eram vendidos directamente ao negociante, quando ele aparecia para os comprar. 

 

                                                                 Com a devida vénia do Autor.

A venda dos bezerros, potros, mulas, muitas vezes, era reservado para os dotes de casamento, compra de mais vacas, por vezes mais uma sorte, e também o cordão, as pelicanas e a corrente com medalha.

As despesas da manutenção das terras, casas, criados, jornaleiros, décima, doenças e vestimenta, eram pagas com a venda do gado miúdo, bacorinhos, cabritos, anhos, frangos, perus e coelhos. 

                                                                                  Com a devida vénia do autor                                                                                                        

 As galinhas, pitos, perus e coelhos, eram vendidos nas feiras, de Fafe, Carvalho, Lameira e por vezes Fermil. As feiras de Fafe, Fermil e Carvalho, ficavam a muitas léguas de distância. A feira mais preferida era Fafe, onde tudo se vendia e tudo se comprava

Mas, para qualquer feira que fosse, a criada acompanhada dos amos, levava uma saca de dois alqueires á cabeça, que podia ser, feijão, centeio, batata ou milho e uma cesta no braço, com bicharia, coelhos. galinhas. Os amos também levavam produtos para vender.

  A ama, levava uma saca de burel, com taleigos dentro, de linhaça, painço e relva. 

A manteiga e nata, iam numas malguinhas dentro dum cestinho. 

 Na aldeia ninguém comprava nada. Os pobres que tanto precisavam daqueles produtos, não tinham dinheiro para os comprar. 

Quando surgia alguma calamidade, em anos fracos de produção, até os caseiros tinham mingua. Naquele tempo não haviam nenhumas ajudas do governo.

 Cada vezhavia mais indigentes, viviam em pequenas choças, com ranchadas de filhos, a viverem numa única divisão, sem retrete, como a casa dos meus pais, dez irmãos a defecarem dentro de casa e á porta de casa, quando eramos crianças, quando começamos a andar, fazíamos as necessidades, no meio da horta, igual aos nossos pais.

Esta retrete, era a que existia na casa dos meus pais, e só foi feita na horta, muitos anos depois do nosso nascimento.

            

 

 



          A parte detrás da casa dos meus pais. onde nascemos e fomos criados.

 

 Uma pequena divisão, que fazia de cozinha e sala. Tínhamos uma pequena horta, mas as couves para fazer o caldo, desapareciam rápido, não chegavam para nada. 

Só nos restava uma saída, pedir esmola, nos lugares da freguesia e freguesias vizinhas. 

Não éramos só nós. Assim acontecia a todas as crianças pobres, que viviam nas mesmas condições.



                                                                           Unica porta de entrada e saída da casa dos meus Pais

   A frente da casa onde nasci, e a minha mãe á entrada da nossa Horta.   


     

                                                    Com a devida vénia  do Autor


                                                     


                                         Com a devida vénia  do Autor



Vivíamos numa perfeita enxovia e escravidão. Sem pão, sem roupa. 
 A que vestíamos era remendada.



A minha esposa com o nosso saudoso filho António Manuel Marques Lopes Vaz, a porta da entrada da casa dos meus pais





         A minha esposa Maria de Lurdes á porta da entrada da casa dos meus pais






 


                                                                Com as devidas Vénias dos Autores



 
                                                                                                

 Por estas fotos se pode ver, como esta gente vivia naquela época. 

Aquela miserável situação, nada tem haver com a vida que vivemos hoje. 

 

Fico triste, quando ouço gente do povo a dizer: "Dantes é que era bom. Que saudades!"   


                                            Com a devidas vénias dos Autores




               Com a devidas vénias dos Autores
                                   

   Não tínhamos lenha para acender o lume, para cozinhar o caldo, e para nos aquecermos no inverno. Todos os lavradores tinham moutas. 

Não faltava lenha, mas os donos andavam sempre a vigiar as coutadas e se fosse visto, alguém a retirar lenha, tiravam-lhe a lenha e agrediam as pessoas e por vezes, faziam queixa ao Regedor, para ele prender as pessoas.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          Com a devida vénia dos Autores

                                                                                             

 Foi o que aconteceu á minha mãe, esposa de "Manuel    Pistola," estava de parto do meu irmão Manuel, que tinha nascido á quinze dias, ela não tinha lenha para acender o lume, para secar os panos do menino.

Foi á mouta do senhor António do Nunes e cortou três galhas num carvalho. Quando vinha para casa, ao passar junto aos campos do citado senhor António Nunes, ele tirou-lhe a lenha e deu-lhe três pancadas nas costas, com o cabo da enxada, que trazia ao ombro. Eram tempos de extrema miséria. Tempo da Ditadura fascista.






Foto, da frente da casa dos meus pais, esta é a única porta da entrada do casebre, onde nascemos e fomos criados e já foi tirada depois do VINTE CINCO DE ABRIL,         

A maioria dos lavradores e caseiros, residentes naquela altura, no lugar de Vila Boa, eram humanos. Quando pressentiam, que havia doença grave na casa dos pobres, mortes, prisões, incêndios, eles apareciam a prestar ajuda ás famílias.

 Não davam dinheiro, mas davam bens essenciais para ajudar a atenuar aquelas desgraças. 

Destaco as lavradeiras Claudina Pereira, Rosinha do Catalão, António Pereira e esposa Maria Pereira, filha Maria Glória, Maria Emília dos Pocinhos, Cândida do Nunes e marido e os Nunes de cima marido e esposa que não me ocorre agora o nome, que eram nossos vizinhos e a casa das Catanas onde todos os dias iamos pedir esmola.

Algumas lavradeiras citadas levavam a nossa casa, travessas de restos de comida para nos matar a fome e muitas vezes broas de pão e panelos cheios de nata.

 A sua presença dentro da casa dum indigente, representava muito. Foram muitos aqueles, que nos prestaram solidariedade. Mesmo nas famílias, que não gostavam dos indigentes, existia um filho, que escondido dos seus pais, dava pão ao filho dos Indigentes e até dinheiro

Inacinho do Marialves, meu companheiro de escola, todos os dias me dava um pedaço de broa. Estudávamos junto ao espigueiro, em frente da casa, ele sabia que passávamos fome, quando o pai lhe dava uma coroa ou duas, dávamos e dizia para eu ir á venda, comprar comida para os meus irmãos

Um dia deu-me três croas, o pai descobriu, deu-lhe uma grande coça e levou-me á presença do Inacinho e agrediu-me. Proibiu o filho de falar comigo ou acompanhar-me. 

Fiquei triste por perder aquele amigo

Nunca mais o esqueci. Sempre que ia á aldeia, perguntava á minha mãe, se tinha notícias do Inácio do Marialves. Ela disse-me que ele seguiu a tropa e que casou com uma professora. 

Passados 55 anos, o Inacinho deu á minha mãe, uma garrafa de aguardente, para ela entregar ao amigo Ambrósio. Obrigado Inácio por continuares meu Amigo.

 

Costumes usados naquela época- Moinhos

Os lavradores tinham um moinho comunitário. Cada um moía no seu dia. Também havia quem tinha moinho próprio, só para si, e quem tinha moinho próprio e moía para a comunidade por maquia, distribuía as farinhas aos fregueses porta a porta, transportadas por mulas ou jumentos, como o moleiro Cristiano Cunha e outros.



Com as devidas vénias dos Autores

                                                                                                                     



                                                                                         

    A mó do moinho a moer e o moleiro a apanhar a farinha para o saco.                                                                                                                                                    

                                                                                   

               
                                            Com as devidas vénias dos Autores

                                      

 




 Moinho de Vilaboa









     


                                      



\Os moinhos do Vilaboa, a ser visitados por três ilustres turistas!

 



                                                                                                                                      Com a devida Vénia do Autor


                                    Águas de consortes


Poças de consortes. Cada consorte, tinha os seus dias ou horas de água, A água tinha hora certa para as tornas. O relógio usado, era o relógio de Sol, porque poucos tinham relógio. Quando não havia Sol, era mais complicado, tinham que pedir um relógio emprestado, a quem o possuía, para ir tapar e abrir, as poças á hora certa. 
O rego de água de consortes, da poça das lebandeiras, passava junto á nossa casa e era a maioria, da água que usávamos, para cozinhar, para nos lavarmos, etc. quando ela passava a nossa porta.                                                                      
                                                                              


                                                                         Poça das Levandeiras
                                                                                                                            

                     Poço da Fonte, Lugar de Vilaboa   

Era naquele poço da fonte, junto mesmo onde caia a água fresquinha da nascente, que as lavradeiras Rosinha do Catalão, a filha Maria Emilia dos Pocinhos, a nora Albininha do Catalão, a Claudina da casa do Pereira e outras, faziam ali a sua bela manteiga, separando a manteiga da nata. 

Levavam uns grandes panelos cheios de leite coalhado e numa vasilha com um furo na tampa em cima, enfiavam um pau naquele buraco e batiam aquele leite durante horas, até conseguir separar a manteiga da nata. 

De vez em quando, as lavradeiras tiravam a tampa e com uma colher, iam tirando a parte de cima da manteiga e metiam numas malgas pequeninas.


                                              O autor do blog foi relembrar o passado. foi beber água a fonte.


 Este uso de tapar e abrir a poça, praticamente só funcionava nos meses de verão, para a rega de milhos, batatas e linhos. Nos meses de inverno, as poças de consortes, abriam-se e tapavam-se por elas próprias, por meio dum engenho de pedra feito pelos pedreiros.

 As águas das poças das latas e da poça das lebandeiras, de inverno, destinavam-se a limar, (a) as ervas dos campos de fenos e lameiros, e funcionava a regra do torna torna, que consistia que os cultivadores dos campos, tapar os pilheiros do rego dos outros campos e abrir pilheiros para os seus.

    Poças de consortes que eu conheci, poça das lataspoça das lebandeiraspoço da fonte, poço da fontalta e poço dos pocinhos, este poço ficava mesmo dentro do quinteiro da casa dos pocinhos e era consorte daquele poço, a senhora Claudina Pereira, Casa do Pereira

 É possível que o poço da fontalta também fosse de consortes. Não sei...  

 Também existia a água da levada de consortes, que saia do rio e vinha regar os campos de Vilaboa, do Cunha, Russo, Marialves, Catanas, Catalão e muitos outros. Como esta água não estava aprisionada, podia-se regar a qualquer hora, pelo que, muitas vezes, os campos eram regados de noite á luz da Lua. As maiores zaragatas e demandas, tinham origem nas águas de consortes. Houveram muitas sacholadas e até mortes.

 

Algumas medidas que usavam na venda e medidas das produções 

Medidas de secos, Carro, (correspondia a 40 alqueires ou rasas) rasa, meia rasa, quarto, meio quarto e quartinho e maquia, e razão. 

Medidas de peso (b)quintal, arroba. Arrátel, meio arrátel e outras.

 Medidas de líquidos, pipa, meia pipa, pipo, almude, cântaro, canada, meia canada, quartilho, meio quartilho e quarteirão). 

Valores usados na compra de artigos, uma libra, um milrei, uma croua, um quartinho, um cruzado, sete e meio, o vintém e o real.

Matança do porco e o presente levado a casa dos pobres.

As casas abastadas matavam três porcos, nas outras matavam dois e os caseiros um. Os pobres quando ouviam os porcos a berrar, punham-se a escutar donde vinha o barulho. 

 


Naqueles lugares pacatos, onde só se ouviam os pardejos e o berro dos gados, aquele berro, da morte dos porcos, era diferente de todos os outros. 

Alegrava os pobres, iam receber o presente tão ansiado.

  O mês de Janeiro era o fim para os suínos. Mas também se matavam porcos em Fevereiro. Quando as casas eram muito juntas, os pobres não distinguiam qual foi o lavrador que fez a matança, mas depressa se desfazia a dúvida, quando se viam os fentos arder e a chamuscar os porcos nas eiras. 

Todos os lavradores e caseiros do lugar de Vilaboa, davam o presente aos meus Pais, com excepção do Russo da Tomada e o Marialves. Mandavam as filhas ou filhos levar dentro duma malga ou prato, um bocado de carne, um bocado de sangue e ás vezes um sibinho de redenho. A minha mãe, metia dentro da malga ou prato, dois tostões. Também a Senhora Emilinha Ferreira, do lugar de Quintela, quando matava os porcos, guardava o presente para os meus pais e quando eu ia lá, pedir a esmola, ela dava o presente junto com a esmola.

Era a mãe dos pobres.

 

a) as palavras que prenuncio, são exatamente as usadas pelo povo, naquela época.

b) Algumas medidas de peso eram feitas de calhaus, a pesar dois kilos, um Kilo, meio kilo, depois de ter aquele peso certo, eram metidas nuns saquinhos de pano com uma presilha para engatar na balança romana, que as farrapeiras traziam dentro dos seus açafates quando andavam de porta em porta a comprar o pano como o caso de Josefa Pires, que morava no lugar de Bolada, minha avó paterna.

Ambrósio Lopes Vaz

 








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