Remédios Caseiros
O concelho de Celorico de Basto era composto por 22 freguesias, muito atrasado em todas as infraestruturas básicas, esquecido pelas chefias do poder, quase que nem constava no mapa. Tal era o marasmo a que tinha sido votado.. o povo sujeitava-se a tudo.
Quando surgiu o VINTE CINCO DE ABRiL, só um quinto do concelho, tinha corrente elétrica, quatro quintos, ainda viviam ás escuras, custa-me descrever estas verdades, porque gosto da minha terra, mas estou a descrever as Memórias da freguesia do Rego, não posso deturpar a verdade.
Mesmo que fira a nossa sensibilidade, nunca tenhámos medo de dizer a verdade.
A freguesia do Rego, Rural, 100% agricola, cercada pelos montes do Alijó, Lameira, Quintela e Lamas,composta por lavradores, caseiros-rendeiros, criados de servir, jornaleiros/as, alguns artesãos e familias de indegentes.
Era uma freguesia, carente de tudo que era básico para sobreviver...
A casa do Povo, só foi fundada no ano de 1945, junto á Serração de Madeiras do Sr. Casimirinho da Venda.
Tinha muito maus acessos. A gente impossibilitada, não tinha acesso aquele serviço.
O Povo para colmatar aquelas carencias, nomeadamente tratamentos da sua saude, recorria aos seus remédios caseiros, que eram transmitidos de gerações para gerações, de pais para filhos, o modo como eram preparados, as plantas escolhidas e os ingredientes adicionados, para cada doença ou curativos, e quantidade da dose, a dar a cada doente.
As Mulheres idosas conheciam muito bem todas as ervas e plantas, para fazerem os remédios caseiros, para tratar as doenças, excepto certas epidemias, tifo, temores malignos e outras moléstias.
Vou citar alguns remédios usados naquela época.
A urina das pessoas, era transformada em remédio, era guardada em vasilhas e usada pelos pobres e também nalgumas casas de lavoira, como tive ocasião de ver, quando fui criado de servir .
Aquele remédio tinha de estar sempre a mão; porque de repente era preciso.
Era um desinfetante e curativo, para pontadas, qeimadelas e escaldadelas...
A urina era usada muitas vezes, quando em serviços agricolas, o pessoal da lavoura, se feria com a foicinha ou outros utensilios, mijava na parte onde estava ferido, a urina funcionava como desinfetante e estancava o sangue.
Eu próprio fiz isso, quando cegava a erva e a foicinha me golpeava os dedos da mão.
As nossas vizinhas, Rosinha do Catalão e a nora Albininha do Catalão, também usavam aquele remédio, vieram algumas vezes, a casa dos meus pais, curar a minha mãe, quando ela era atacada por pontadas nas costas e no peito e de momento, não tinha aquele remédio, pedia ajuda aquelas nossas vizinhas, que o traziam e faziam o tratamento no sitio onde doia. Passado algum tempo, a minha mãe, sentia as melhoras, a dor passava.
Para diarreiras, o remédio, era uma planta muito conhecida; chamada erva da caganeira, que se produzia no meio das pedras das calçadas e caminhos soalheiros.Era muito eficaz para aquele tratamento. Ainda hoje, na aldeia é conhecida pelas pessoas idosas.
A Politária era usada como desinfetante nas partes pubicas, quando havia inflamação dos orgãos genitais, pénis e vulva, fervia-se a água com aquela planta lavavam-se aqueles orgãos várias vezes e tudo voltava ao normal. Aquela planta produzia-se nas paredes antigas e ainda hoje se encontra em qualquer local nas paredes antigas.
A planta politária
A Serúdia é uma planta que também se desenvolve nas paredes antigas, com umas folhas largas e recortadas, dá uma flor amarela e encontra-se em qualquer lugar na aldeia ou na cidade, onde ainda existam paredes antigas.
Naquela época fazia o lugar do betadine de hoje. O povo usava aquela planta, sempre que estivesse ao seu alcance, quando dava algum golpe, picadela, etc., cortava um raminho, e espremia o caule, sobre o golpe ou picadela... e o caule deitava um liquido amarelo escuro. No sitio da cortadela ficava uma mancha igual há que fica quando hoje usamos o betadine.
E aquela ferida não durava muito tempo a sarar.
Também usavam as folhas para fazer os curativos.
A serúdia, planta medicional, nascida no meio das pedras da parede antiga.
Sabugueiro com maturação completa.
As bagas eram pisadas e colocadas em compressas de infusão e usadas nas feridas, queimaduras e outras doenças. O povo usava muito aquelas bagas, como cura e tratamento em muitas doenças, mas tinha muito cuidado, no uso,na cura e tratamentos, porque é uma planta tóxica.
As bagas de côr Vermelha são venenosas, porque o sabugueiro que as produz, é uma qualdade diferente, por isso não usavam, as flores, folhas e bagas, daquele sabugueiro.
Também, eram usadas para chás, várias ervas e folhas de árvores, como a erva cidreira, a hortelâ, mantrastes, malvas, urtigas, limonete, raizes de morango bravo e ervas de São Roberto. Folhas de Laranjeira, Limoeiro, Oliveira, Loureiro, Musgo de carvalho cerquinho, Linhaça, pevides de calondros e a flor, rosmaninho, etc..
Das ervas e flores mencionados faziam chás,infusões e cataplasmas, combinando flores com plantas, para cada tratamento adequado a cada doença, eu por acaso sei parte das plantas e ervas a que se destinava a certas curas, mas para encurtar, abstenho-me de as narrar.
De qualquer forma, os leitores do blog "Memórias do Rego", já ficam com uma ideia dos remédios usados naquela época pelo povo da minha aldeia.
Além, daqueles medicamentos caseiros, quando as doenças se agravavam e não se pervia para breve a sua cura, o povo recorria a certas crendices, "bruxas", curandeiros que faziam certas rezas e ainda recorriam a certas pessoas idosas para talhar certas maleitas, como o bicho, a papeira, etc...
Ambrosio Lopes Vaz
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