A
velhinha Escola do Rego
Esta
casa, era pertença da casa de lavoura da família dos Nunes, ficava junto a
casa do carpinteiro, Sr, Narciso Alves Ferreira e foi cedida a junta
de Freguesia do Rego, para ser adaptada á escola primária, Suponho ser a primeira escola da freguesia do Rego.
A casa
era composta, pela residência da professora, por uma sala de aulas, com duas portas e uma janela e uma retrete para
todos os alunos, situada junto á horta, onde os excrementos caiam a céu
aberto directamente na horta.
A
freguesia do Rego, nunca teve sede própria, para prestar os seus serviços ao
público. Os
serviços prestados ás populações, eram feitos na casa do Presidente da junta de
freguesia,
A
velhinha escola do Rego, era o ponto de encontro, quando fosse preciso reunir o povo da
freguesia. Só houve sede para a junta da freguesia, muito depois do 25 de
Abril.
A antiga
escola do Rego foi demolida e anexada a casa do sr. Narciso Alves Ferreira e
ali foi construído um novo edifício, para onde foi transferida a casa do povo
do Rego “Posto Médico” e instalada a primeira Sede da junta da freguesia do
Rego.
Foi uma excelente Mestra, dava aulas em conjunto, á 1ª, 2ª, 3ª e 4ª classe, sexo masculino e feminino
Para os filhos dos indigentes, foi segunda mãe.
Repartia as suas refeições com os alunos e alunas, que ela sabia, que iam para lição cheios de fome. Matou-me muitas vezes a fome e também vi a Senhora Professora, dar comida á aluna Hermínia Rija e outros.
Usava um truque para nos dar comida e os
outros alunos não se aperceberem.
Combinava com a sua criada Laurinda, a maneira de repartir a sua comida com os
alunos que passavam fome. Quando saía da casa e ia para a sala dar as aulas,
levava consigo um cestinho na mão onde levava o correio e o despertador.
Quando queria dar comida a alunos que
passavam fome, “esquecia-se do despertador”, chamava esse aluno á secretária e
mandava esse aluno buscar o despertador, porque ela já tinha combinado com a
criada Laurinda, para ter a comida pronta, para aquele aluno, que ia buscar o
despertador. Aquela acção praticada pela professora Maria Leopoldina de
Matos Nobre, perdurou para toda a vida, na memoria das crianças a quem matou a
fome.
Com
poucas condições, para acomodar naquela pequena sala, as quatro classes e dar aulas ao mesmo tempo,
ás quatro classes, (6 dias por semana). Não era fácil.
A
primeira classe sentava-se em volta das carteiras, nuns pequenos banquinhos,
feitos de madeira e era ali que recebíamos as lições.
As
carteiras eram ocupadas pela quarta classe, terceira classe e segunda classe e
normalmente misturava os alunos mais dotados, da terceira classe com a quarta
classe.
Aproveitava
todo o tempo, para instruir aqueles futuros homens e mulheres. Pela sua mão, passaram alunos, que
continuaram os estudos secundários e se licenciaram, como o Ilustre Arquiteto Paisagista,
Engenheiro Ilídio Alves de Araújo e vários alunos que se ordenaram Sacerdotes.
(que falarei deles quando falar do Abade, José Gomes Júnior) e muitos outros, Homens
e Mulheres, que prestigiaram a freguesia do Rego, nomeadamente os
emigrantes, com as novas construções de vivendas e moradias.
Durante
os meses de Inverno, a freguesia do Rego, devido á sua localização, era a
freguesia mais gelada. Na nossa escola, arreguiçavamos de frio. A
senhora professora, ia bem agasalhada, mas para se aquecer durante as horas que dava a lição, mandava a criada Laurinda, preparar várias
brasas, de lenha de carvalho, para durar mais tempo, e meter as brasas numa
braseira de cobre, que tinha uma asa de cada lado, mandava dois alunos buscar a
braseira, que colocavam num estrado de madeira, que estava debaixo da sua
secretária. Aquela braseira, dava para aquecer a Senhora Professora e os alunos.
Aquela grande Mestra, deixava os alunos aquecer o corpo naquela braseira, quando estavam cheios de frio ou tinham as mãos geladas.
Com a devida vénia do Autor.
A
Professora D. Maria Leopoldina de Matos Nobre, além da sua nobre profissão de
Professora, também fazia serviço, para a Conservatória do Registo Civil de
Celorico de Basto, registava todos os nascimentos e óbitos, dos habitantes da
freguesia do Rego, entregava no ato dos registos, as respectivas cédulas
e outros documentos, devidamente selados, e assinados pelo seu próprio
punho.
Naquela época existia na freguesia do Rego, Posto de Registo Civil do Rego, que funcionava na velhinha escola do Rego, como se pode ver nos documentos publicados.
Evitando
aos residentes na freguesia Rego, a deslocação á Conservatória do Registo
Civil de Celorico de Basto para fazer aqueles registos. Não havia transportes.
Tinham de ir a pé, caminhando muitas léguas, por montes e carreiros.
Também.
era responsável, por
todo o correio enviado aos residentes na freguesia do Rego.
Recebia o correio e fazia as diligências necessárias,para o correio ser entregue aos seus destinatários.
Naquela
época, os
Correios, utilizavam os comboios para fazer a distribuição do correio para todo
o pais.
Com a devida vénia do Autor.
Com a devida vénia do Autor
O vagão correio era todo tapado. Tinha de cada lado, várias janelas, duas portas e uma caixa para meter o correio,quando o comboio estava parado.
A primeira porta era a entrada do
gabinete do Chefe, a outra era a entrada dos funcionários que
trabalhavam naquela “repartição”
Esta
caixa do correio, era usada, no carro de tração animal no Seculo XIX
Recetáculo do Correio Geral, feito em pedra
Saco do Correio lacrado, expedido da Baia para Lisboa
Vagão-Correio, que circulou na via férria, durante muitos anos, transportando correio.
Com a devida vénia do Autor
Caixa do Correio Divisora, do Seculo XIX
Vou descrever o percurso que o correio,
cartas revistas, jornais, avisos, livros, etc... percorria até chegar ás mãos
daquela saudosa Professora, Maria Leopoldina de Matos Nobre.
O
comboio onde atrelava o vagão—correio,
partia da cidade do Porto, da estação Avenida de França (Boavista) ás 8h45 e
quando foi concluída a estação da Trindade, começou a partir daquela estação,
com destino no mesmo percurso, Trindade-- Fafe.
Todo o
correio destinado aos concelhos de Fafe, Celorico de Basto, Mondim de Basto,
Cabeceiras de Bastos, Arco de Baúlhe e Ribeira de Pena, transportado pelos caminhos de ferro,
terminava na estação de Fafe. Do correio geral de Fafe, ia um furgão dos
correios, recolher todos os sacos do correio destinado aqueles concelhos.
Naquele posto de correio geral de Fafe,
todo o correio registado, destinado á área abrangente do correio geral de
Fafe, ficava depositado naquele posto, e seguia no saco do correio
normal, aviso de recepção, avisar os destinatários do seu levantamento, naquele
respectivo posto dos correios de Fafe. O que acontecia aos residentes na
freguesia do Rego.
A
partir daquele citado posto do correio, os sacos destinados aos concelhos
mencionados, eram transportados pelas camionetas de carreira, chamadas “Mondinência” e Viação Automotora, de António Magalhães.
Mas, o saco do correio destinado á
freguesia do Rego, era entregue a horas certas, no lugar da
Lameira, ao Senhor Alfredo, conhecido pelo Senhor Alfredo do correio,
que todos os dias uteis, de manhã, ás 8h30, entregava no lugar da
Lameira, ao motorista daquelas carreiras, o saco do correio expedido, aquele saco
levava dentro, o correio normal, dos habitantes da freguesia do Rego. Ás
três horas da tarde, no lugar da Lameira, os chauffeurs daquelas carreiras,
entregava ao Sr. Alfredo o mesmo saco, com o correio normal destinado á freguesia
do Rego.
O
Senhor Alfredo,
entregava aquele saco do correio, na velhinha escola da freguesia do Rego á Senhora
professora Maria Leopoldina Matos Nobre, que era responsável, por todo o
correio, destinado á freguesia do Rego e por fazer chegar todo aquele correio
aos seus destinatários.
Aquela
Escola, também era considerada Posto de Correio. A Senhora Professora tinha a
chave, abria o saco, tirava toda a correspondência e metia no saco o correio
que ia ser expedido, fechava o saco á chave. Ficava pronto, para o Sr.
Alfredo, de manhã entregar aquelas carreiras, para voltar á procedência,
posto do Correio Geral de Fafe, que depois de ser tratado, era
encaminhado para a estação de caminhos de ferro de Fafe.
O
correio era transportado nuns grandes sacos de burel e na
abertura tinham cravada uma fechadura quadrada, cravada na boca do saco,
num dos lados da fechadura, estava cravada uma correia de cabedal, com
vários furos, dava a volta na boca do saco, a fechadura abria a meio, dentro
tinha uns pernos onde a correia encaixava, depois do saco estar fechado,
fixavam novamente a fechadura e com uma chave exclusiva dos correios fechavam a
fechadura.
O correio registado, tinha outro tratamento, era
metido noutros sacos destinados a estações do correio geral de cada concelho, onde era levantado pelo próprio ou
seu representante.
Com a devida vénia do Autor
Os sacos do Correio, prontos para entrar
no vagão-correio e seguir o seu destino
Os
sacos do correio destinados ás freguesias, tinham escrito em letras destacadas,
o nome da estação dos correios de onde saia e o nome da freguesia a que se destinava.
No
caso do saco destinado á freguesia do Rego, estava escrito FAFE-REGO. No
endereço dos destinatários da freguesia do Rego, tinha que se escrever “Correio
Fafe Lameira” Caso não escrevesse aquelas frases o correio era devolvido.
Como
acima citei, todo o correio normal, destinado a freguesia do Rego.saía do posto
do correio geral de Fafe, no respectivo saco Fafe-Rego, mas nas camionetas, ia só até á
Lameira.
Ainda
hoje a freguesia do Rego, tem o código postal de Fafe, 4820-840 e a freguesia pertence a Celorico de
Basto, código postal de 4891.
Como atrás mencionei, a Senhora Professora
Maria Leopoldina de Matos Nobre, deu aulas,
até se aposentar, na escola da freguesia do Rego, desde o ano de 1913 até ao
ano de 1945.
Quando se aposentou, levou com ela, a sua criada Laurinda, que cuidou da senhora Professora, Maria Leopoldina de Matos Nobre até á sua morte.Foi viver para a sua casa que herdou dos seus pais, onde nasceu e morreu, no estado civil de solteira, na sua terra Natal, na rua da Nogueira nº22, freguesia Souto Maior, concelho de Sobrosa. Mas continuou ligada a familias amigas da freguesia do Rego,a quem escrevia regularmente para matar saudades.
Depois da morte dos pais, acabou a raiz da família.
Como não tinha herdeiros, deixou a herança á sua amiga Arminda Martins.
Casa da Sra. Professora
Porta principal, nº22, da entrada da casa da Sra. Professora
A Senhora Professora Maria Leopoldina de Matos Nobre, filha de Luiz António de Matos Nobre e Margarida Monteiro de Matos, filha única, oriunda de uma família burguesa, foi sepultada no seu jazigo, herdado de seus pais, no cemitério de Souto Maior, freguesia de Sobrosa.
Jazigo onde está sepultada, a saudosa Professora Maria Leopoldina de Matos Nobre
A
Senhora Professora Maria Leopoldina de Matos Nobre, deu aulas na antiga Escola da freguesia
do Rego, durante 32 anos, vivia numa pequena Casa, anexa á escola, nas
traseiras, tinha uma varanda de madeira em toda a extensão e por baixo tinha
cave, com duas cortes, uma era galinheiro, a outra capoeiras de coelhos.
As
traseiras da casa confrontavam com o caminho publico e a frangalhada muitas vezes andava á
solta, vinham para a horta e para os campos da penouta, quando tresmalhavam e a
criada Laurinda não dava conta do recado, a Senhora Professora, mandava
os alunos dar uma ajuda, e lá conseguíamos levar toda aquela bicharada para
dentro do galinheiro.
Aquela
grande Mulher, com um M dos grandes,
durante a sua nobre e espinhosa missão, deu aulas a quatro classes ao mesmo
tempo e além do ensino, prestou outros importantes Serviços, aos
habitantes da freguesia do Rego.
Pela
sua dedicação á causa publica e bem comum, merecia que os Autarcas da freguesia do
Rego, dessem o seu nome. a uma rua, quando as quelhas, canelhas e caminhos, da
freguesia do Rego se transformassem em ruas. Cheguei a falar nesse assunto,
ao Senhor Presidente, da Junta de Freguesia do Rego, José Carvalho.
Construíram
as ruas, deram-lhe nome, mas o
nome da Senhora Professora, Maria Leopoldina de Matos Nobre, não consta
em nenhuma rua ou outro sítio.
Os
Autarcas atuais, se
assim o entenderem, podem prestar essa justiça, a senhora Professora Maria Leopoldina de Matos Nobre, que é bem merecida.
Finalizo. com a publicação dos meus diplomas, do ensino primário e os livros onde estudei a 3ª classe em criança e 4ª classe de adulto,
Diploma, da 3ª classe, da frequência na Antiga Escola do Rego, entrei aos 8 anos e sai aos 11 anos. fiz exame da 3ª classe no dia um de Julho de 1943.
Manuel Teixeira Vaz
Agradeço ao meu irmão, Manuel Teixeira Vaz, a preciosa recolha de dados, e ao Sr. Albano Alves de Araújo e D. Júlia Alves de Araújo, o fornecimento de elementos e informações muito uteis, referentes á Senhora Professora Maria Leopoldina de Matos Nobre.
Ambrósio
Lopes Vaz
Gostei muito de conhecer esta estoria muito obrigado a quem publicou.
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