domingo, 10 de outubro de 2021


 


 

A velhinha Escola do Rego

Esta casa, era pertença da casa de lavoura da família dos Nunes, ficava junto a casa do carpinteiro, Sr, Narciso Alves Ferreira e foi cedida a junta de Freguesia do Rego, para ser adaptada á escola primária, Suponho ser a primeira escola da freguesia do Rego.

A casa era composta, pela residência da professora, por uma sala de aulas, com duas portas e uma janela e uma retrete para todos os alunos, situada junto á horta, onde os excrementos caiam a céu aberto directamente na horta.

A freguesia do Rego, nunca teve sede própria, para prestar os seus serviços ao público. Os serviços prestados ás populações, eram feitos na casa do Presidente da junta de freguesia,

A velhinha escola do Rego, era o ponto de encontro, quando fosse preciso reunir o povo da freguesia. Só houve sede para a junta da freguesia, muito depois do 25 de Abril.

A antiga escola do Rego foi demolida e anexada a casa do sr. Narciso Alves Ferreira e ali foi construído um novo edifício, para onde foi transferida a casa do povo do Rego “Posto Médico” e instalada a primeira Sede da junta da freguesia do Rego.


      Uma bela construção da junta da freguesia do Rego

Naquela velhinha Escola do Rego, deu lições, a Senhora Professora, Maria Leopoldina de Matos Nobre, desde o ano de 1913 até ao ano de 1945.

  Foi uma excelente Mestra, dava aulas em conjunto, á 1ª, 2ª, 3ª e 4ª classe, sexo masculino e feminino

  Para os filhos dos indigentes, foi segunda mãe.

  Repartia as suas refeições com os alunos e alunas, que ela sabia, que iam para lição cheios de fome. Matou-me muitas vezes a fome e também vi a Senhora Professora, dar comida á aluna Hermínia Rija e outros.

 

       Professora
Algumas ferramentas usadas pela Sra.Professora. Por acaso também usava uma grande vara de marmeleiro, da qual eu fui várias vezes "mimado", mas devido ao meu comportamento, os castigos que levei foram bem merecidos.

Usava um truque para nos dar comida e os outros alunos não se aperceberem. Combinava com a sua criada Laurinda, a maneira de repartir a sua comida com os alunos que passavam fome. Quando saía da casa e ia para a sala dar as aulas, levava consigo um cestinho na mão onde levava o correio e o despertador.

Quando queria dar comida a alunos que passavam fome, “esquecia-se do despertador”, chamava esse aluno á secretária e mandava esse aluno buscar o despertador, porque ela já tinha combinado com a criada Laurinda, para ter a comida pronta, para aquele aluno, que ia buscar o despertador. Aquela acção praticada pela professora Maria Leopoldina de Matos Nobre, perdurou para toda a vida, na memoria das crianças a quem matou a fome. 

 

Com a devida vénia do Autor.

 

Com poucas condições, para acomodar naquela pequena sala, as quatro classes e dar aulas ao mesmo tempo, ás quatro classes, (6 dias por semana). Não era fácil.

A primeira classe sentava-se em volta das carteiras, nuns pequenos banquinhos, feitos de madeira e era ali que recebíamos as lições.

As carteiras eram ocupadas pela quarta classe, terceira classe e segunda classe e normalmente misturava os alunos mais dotados, da terceira classe com a quarta classe.

Aproveitava todo o tempo, para instruir aqueles futuros homens e mulheres. Pela sua mão, passaram alunos, que continuaram os estudos secundários e se licenciaram, como o Ilustre Arquiteto Paisagista, Engenheiro Ilídio Alves de Araújo e vários alunos que se ordenaram Sacerdotes. (que falarei deles quando falar do Abade, José Gomes Júnior) e muitos outros, Homens e Mulheres, que prestigiaram a freguesia do Rego, nomeadamente os emigrantes, com as novas construções de vivendas e moradias.

Durante os meses de Inverno, a freguesia do Rego, devido á sua localização, era a freguesia mais gelada. Na nossa escola, arreguiçavamos de frio. A senhora professora, ia bem agasalhada, mas para se aquecer durante as horas que dava a lição,  mandava a criada Laurinda, preparar várias brasas, de lenha de carvalho, para durar mais tempo, e meter as brasas numa braseira de cobre, que tinha uma asa de cada lado, mandava dois alunos buscar a braseira, que colocavam num estrado de madeira, que estava debaixo da sua secretária. Aquela braseira, dava para aquecer a Senhora Professora e os alunos.

 Aquela grande Mestra, deixava os alunos aquecer o corpo naquela braseira, quando estavam cheios de frio ou tinham as mãos geladas.   


Com a devida vénia do Autor.

 

A Professora D. Maria Leopoldina de Matos Nobre, além da sua nobre profissão de Professora, também fazia serviço, para a Conservatória do Registo Civil de Celorico de Basto, registava todos os nascimentos e óbitos, dos habitantes da freguesia do Rego, entregava no ato dos registos, as respectivas cédulas e outros documentos, devidamente selados, e assinados pelo seu próprio punho.


 

Naquela época existia na freguesia do Rego, Posto de Registo Civil do Rego, que funcionava na velhinha escola do Rego, como se pode ver nos documentos publicados.



el.

Evitando aos residentes na freguesia Rego, a deslocação á Conservatória do Registo Civil de Celorico de Basto para fazer aqueles registos. Não havia transportes. Tinham de ir a pé, caminhando muitas léguas, por montes e carreiros.

Também. era responsável, por todo o correio enviado aos residentes na freguesia do Rego.

Recebia o correio e fazia as diligências necessárias,para o correio ser entregue aos seus destinatários.

Naquela época, os Correios, utilizavam os comboios para fazer a distribuição do correio para todo o pais.

Todos os distritos que tivessem vias férreas, tinham um comboio que atrelava um vagão- correio e por cada concelho que passava, na estação onde parava, estava á espera um furgão dos correios, devidamente identificado, a quem eram entregues todos os sacos do correio destinado aquele concelho e dali seguiam para o correio geral daquele concelho, que procedia a distribuição para as freguesias correspondentes.

                                          

          Com a devida vénia do Autor.            

                          
Para esse efeito, a companhia de Caminhos de Ferro, mandou construir Vagões-Correio, que eram umas perfeitas” repartições” publicas dos Correios.


Com a devida vénia do Autor


O vagão correio era todo tapado. Tinha de cada lado, várias janelas, duas portas e uma caixa para meter o correio,quando o comboio estava parado.

A primeira porta era a entrada do gabinete do Chefe, a outra era a entrada dos funcionários que trabalhavam naquela “repartição”

 


                                                                      Postais dos correios

 

Esta caixa do correio, era usada, no carro de tração animal no Seculo XIX


 Postais dos correios

Recetáculo do Correio Geral, feito em pedra


 
Saco do Correio, lacrado expedido de Lisboa para a Évora.



                                                 Saco do Correio lacrado, expedido da Baia para Lisboa

                                    

            Vagão-Correio, que circulou na via férria, durante muitos anos, transportando correio.

Com a devida vénia do Autor


Postais dos correios

    Caixa do Correio Divisora, do Seculo XIX

Vou descrever o percurso que o correio, cartas revistas, jornais, avisos, livrosetc... percorria até chegar ás mãos daquela saudosa Professora, Maria Leopoldina de Matos Nobre.

 



O comboio onde atrelava o vagão—correio, partia da cidade do Porto, da estação Avenida de França (Boavista) ás 8h45 e quando foi concluída a estação da Trindade, começou a partir daquela estação, com destino no mesmo percurso, Trindade-- Fafe.


Com a devida vénia do Autor


Todo o correio destinado aos concelhos de Fafe, Celorico de Basto, Mondim de Basto, Cabeceiras de Bastos, Arco de Baúlhe e Ribeira de Pena, transportado pelos caminhos de ferro, terminava na estação de Fafe. Do correio geral de Fafe, ia um furgão dos correios, recolher todos os sacos do correio destinado aqueles concelhos.

 Naquele posto de correio geral de Fafe, todo o correio registado, destinado á área abrangente do correio geral de Fafe, ficava depositado naquele posto, e seguia no saco do correio normal, aviso de recepção, avisar os destinatários do seu levantamento, naquele respectivo posto dos correios de Fafe. O que acontecia aos residentes na freguesia do Rego.

A partir daquele citado posto do correio, os sacos destinados aos concelhos mencionados, eram transportados pelas camionetas de carreira, chamadas “Mondinência” e Viação Automotora, de António Magalhães.

Mas, o saco do correio destinado á freguesia do Rego, era entregue a horas certas, no lugar da Lameira, ao Senhor Alfredo, conhecido pelo Senhor Alfredo do correio, que todos os dias uteis, de manhã, ás 8h30, entregava no lugar da Lameira, ao motorista daquelas carreiras, o saco do correio expedido, aquele saco levava dentro, o correio normal, dos habitantes da freguesia do Rego. Ás três horas da tarde, no lugar da Lameira, os chauffeurs daquelas carreiras, entregava ao Sr. Alfredo o mesmo saco, com o correio normal destinado á freguesia do Rego.

O Senhor Alfredo, entregava aquele saco do correio, na velhinha escola da freguesia do Rego á Senhora professora Maria Leopoldina Matos Nobre, que era responsável, por todo o correio, destinado á freguesia do Rego e por fazer chegar todo aquele correio aos seus destinatários.

Aquela Escola, também era considerada Posto de Correio. A Senhora Professora tinha a chave, abria o saco, tirava toda a correspondência e metia no saco o correio que ia ser expedido, fechava o saco á chave. Ficava pronto, para o Sr. Alfredo, de manhã entregar aquelas carreiras, para voltar á procedência, posto do Correio Geral de Fafe, que depois de ser tratado, era encaminhado para a estação de caminhos de ferro de Fafe.

O correio era transportado nuns grandes sacos de burel e na abertura tinham cravada uma fechadura quadrada, cravada na boca do saco, num dos lados da fechadura, estava cravada uma correia de cabedal, com vários furos, dava a volta na boca do saco, a fechadura abria a meio, dentro tinha uns pernos onde a correia encaixava, depois do saco estar fechado, fixavam novamente a fechadura e com uma chave exclusiva dos correios fechavam a fechadura.

O correio registado, tinha outro tratamento, era metido noutros sacos destinados a estações do correio geral de cada concelho, onde era levantado pelo próprio ou seu representante.

Com a devida vénia do Autor

 

Os sacos do Correio, prontos para entrar no vagão-correio e seguir o seu destino

 

Os sacos do correio destinados ás freguesias, tinham escrito em letras destacadas, o nome da estação dos correios de onde saia e o nome da freguesia a que se destinava.

No caso do saco destinado á freguesia do Rego, estava escrito FAFE-REGO. No endereço dos destinatários da freguesia do Rego, tinha que se escrever “Correio Fafe Lameira” Caso não escrevesse aquelas frases o correio era devolvido.

Como acima citei, todo o correio normal, destinado a freguesia do Rego.saía do posto do correio geral de Fafe, no respectivo saco Fafe-Rego, mas nas camionetas,  ia só até á Lameira.

Ainda hoje a freguesia do Rego, tem o código postal de Fafe, 4820-840 e a freguesia pertence a Celorico de Basto, código postal de 4891.

Como atrás mencionei, a Senhora Professora Maria Leopoldina de Matos Nobre, deu aulas, até se aposentar, na escola da freguesia do Rego, desde o ano de 1913 até ao ano de 1945.

Quando se aposentou, levou com ela, a sua criada Laurinda, que cuidou da senhora Professora, Maria Leopoldina de Matos Nobre até á sua morte.Foi viver para a sua casa que herdou dos seus pais, onde nasceu e morreu, no estado civil de solteira, na sua terra Natal, na rua da Nogueira nº22, freguesia Souto Maior, concelho de Sobrosa. Mas continuou ligada a familias amigas da freguesia do Rego,a quem escrevia regularmente para matar saudades. 

Depois da morte dos pais, acabou a raiz da família.

 Como não tinha herdeiros, deixou a herança á sua amiga Arminda Martins.


                       Casa da Sra. Professora

                                                                   
                                                       Porta principal, nº22, da entrada da casa da Sra. Professora

 

                                                      




  Jazigo da Saudosa Professora Maria Leopoldina de Matos Nobre



Cemitério da freguesia de Souto Maior 


A Senhora Professora Maria Leopoldina de Matos Nobre, filha de Luiz António de Matos Nobre e Margarida Monteiro de Matos, filha única, oriunda de uma família burguesa, foi sepultada no seu jazigo, herdado de seus pais, no cemitério de Souto Maior, freguesia de Sobrosa. 










    










                                      

 

 

 





                    Jazigo onde está sepultada, a saudosa Professora Maria Leopoldina de Matos Nobre

 

A Senhora Professora Maria Leopoldina de Matos Nobre, deu aulas na antiga Escola da freguesia do Rego, durante 32 anos, vivia numa pequena Casa, anexa á escola, nas traseiras, tinha uma varanda de madeira em toda a extensão e por baixo tinha cave, com duas cortes, uma era galinheiro, a outra capoeiras de coelhos.

As traseiras da casa confrontavam com o caminho publico e a frangalhada muitas vezes andava á solta, vinham para a horta e para os campos da penouta, quando tresmalhavam e a criada Laurinda não dava conta do recado, a Senhora Professora, mandava os alunos dar uma ajuda, e lá conseguíamos levar toda aquela bicharada para dentro do galinheiro.

Aquela grande Mulher, com um M dos grandes, durante a sua nobre e espinhosa missão, deu aulas a quatro classes ao mesmo tempo e além do ensino, prestou outros importantes Serviços, aos habitantes da freguesia do Rego.

Pela sua dedicação á causa publica e bem comum, merecia que os Autarcas da freguesia do Rego, dessem o seu nome. a uma rua, quando as quelhas, canelhas e caminhos, da freguesia do Rego se transformassem em ruas. Cheguei a falar nesse assunto, ao Senhor Presidente, da Junta de Freguesia do Rego, José Carvalho.

Construíram as ruas, deram-lhe nome, mas o nome da Senhora Professora, Maria Leopoldina de Matos Nobre, não consta em nenhuma rua ou outro sítio.

Os Autarcas atuais, se assim o entenderem, podem prestar essa justiça, a senhora Professora Maria Leopoldina de Matos Nobre, que é bem merecida.


Finalizo. com a publicação dos meus diplomas, do ensino primário e os livros onde estudei a 3ª classe em criança e 4ª classe de adulto, 


Diploma, da 3ª classe, da frequência na Antiga Escola do Rego, entrei aos 8 anos e sai aos 11 anos. fiz exame da 3ª classe no dia um de Julho de 1943.


                Diploma da minha quarta classe, da frequência, na escola de adultos, na Empresa Fabril do Norte ( fabrica dos carrinhos). Fiz exame da 4º classe de adultos, em 20 de março de 1959. 









Manuel Teixeira Vaz

Agradeço ao meu irmão, Manuel Teixeira Vaz, a preciosa recolha de dados, e ao Sr. Albano Alves de Araújo e D. Júlia Alves de Araújo, o fornecimento de elementos e informações muito uteis, referentes á Senhora Professora Maria Leopoldina de Matos Nobre.

 

 


Ambrósio Lopes Vaz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 






 




1 comentário:

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