Lançamento de bombas na Residência Paroquial.
A P.I.D.E invadiu a freguesia do Rego e
prendeu muitas pessoas.
Com a proclamação da
Républica acabou um regime tirano que oprimia e esmagava o povo. Só o Clero e a Nobreza,
é que tinham todos os direitos. As três constituições, que geriram o
reinado da Monarquia, estabeleciam todos os privilégios ao Clero e á Nobreza.
A constituição estabelecia que os Cardeais, Bispos e outros altos
dignatários da igreja, também fossem eleitos para a corte, onde eram
tomadas todas as decisões para o País.
A Constituição de 1822
determinava a celebração de missa nas Assembleias de voto, antes da votação...O
Povo é que alimentava todos aqueles “Lórdes” ... Em todos os países onde
predominava a religião Católica, quem determinava toda a governação, era o Clero,
com as orientações da Santa Sé....
Os Reis, podiam mesmo ser
cardeais ou bispos, como aliás aconteceu em Portugal.
Mas todos os Reis, só
podiam governar, depois do Papa decretar a bula que lhe dava
os poderes de ser Rei e governar.
Foi este Regime, que vigorou
durante seculos, na Monarquia.
PROCLAMAÇÃO DA RÉPUBLICA, EM 5 DE OUTUBRO
DE 1910
Com a devida vénia do Autor
Quando foi proclamada
a República, o pais tinha 80 % de analfabetos e a maior percentagem de
analfabetos era nos meios rurais.
Com a devida vénia do Autor
Proclamação da Républica no Parlamento, Assembleia Nacional Constituinte.
O povo vivia na miséria. O clero e a nobreza
viviam regaladamente como Lórdes.
Durante várias décadas, houveram várias revoltas, para pôr fim aquele deplorável regime, mas os autores foram vencidos e condenados á morte. Aqueles que lutaram pela Liberdade pagaram com a vida, foram assassinados.
A luta continuou
até á vitória final. Venceram.
Mas, o novo regime ainda demorou muito
tempo a ser posto em prática, nas freguesias rurais. O clero continuou a
dominar. Ignorou a mudança de regime.
Quem continuava a ser a
autoridade máxima nas freguesias, era o sr. Abade. Nenhum
empreendimento, por mais pequeno que fosse, podia funcionar, sem primeiro ser
benzido, pelo sr. Abade. O clero continuou a funcionar como se
nada tivesse acontecido, para ele, continuava a existir as três classes, CLERO,
NOBREZA e POVO.
Durante a Monarquia a Santa Sé determinava, que, na localidade onde fosse criada uma Paróquia, os habitantes dessa localidade, tinham que ceder á nova paróquia, residência para o Abade e terreno para pensar um cavalo ou égua.
A esse terreno
chamava-se passal.
Naquela época, possuir
um cavalo ou égua, era um luxo, correspondia a um mercedes de hoje!
O primeiro governo
Constitucional, Afonso Costa, fez a Lei de Separação da Religião e o
Estado. A partir da publicação daquela lei, os Passais e Residências dos
Abades, que eram pertença das paróquias, podiam ser vendidas.
Naquela data, da implantação da República
(5 de outubro 1910), paroquiava a freguesia do Rego, o Sr. Abade José
Gomes Júnior, que na altura era novo, tinha quarenta e dois anos,
mas já possuía na freguesia do Rego, uma lavoura e casa, onde vivia o seu caseiro,
António Sarilho, mulher e quatro filhos, Cacilda, António, Albino e Domingos, que
cultivavam os campos.
O Sr. Abade, astúcio, perante um povo, na esmagadora maioria analfabeto e confiante no seu cura, não perdeu a oportunidade, de aproveitar a lei do Afonso Costa, “poder ser vendidas as residências e os passais”. Como era costume, o Sr. Abade durante a missa ao domingo, comunicava as notícias referentes á freguesia, no meio daquelas notícias, anunciou mais uma. A residência e o passal, vão ser vendidos em leilão.
Os paroquianos, que lançarem sobre o valor, dado á residência e passal, que é posto em leilão, serão excomungados...
Como ninguém queria ser excomungado, nenhum habitante da
freguesia do Rego, apareceu a cobrir aquele valor, o Sr. Abade José Gomes
Júnior, comprou a residência e o passal por tuta e meia, e a freguesia
do Rego, ficou sem residência e passal, para albergar o próximo
substituto, do Sr. Abade José Gomes Júnior, quando ele fosse substituído.
Naquele tempo, todos os paroquianos, tinham de pagar a congra, também chamada oferta ao Sr. Abade, um alqueire de milho, por cada casal e meio alqueire, por cada viúva ou mulher sozinha. Os indigentes não tinham dinheiro nem milho para pagar a congra.
Havia um lavrador, no lugar de Arbonça, chamado Sr. Anselmo que arrendou as terras ao Sr. Ferreira. O Sr. Anselmo como era um homem rico, ausentava-se para o Porto ou para Lisboa por largo tempo e deixou um feitor a gerir os seus negócios.
Aconteceu que o feitor vendeu várias árvores das moutas sem ordem do patrão Anselmo. Quando o patrão veio visitar as terras deu pela falta daquelas árvores e indagou o caseiro quem é que as tinha cortado, o caseiro disse-lhe que foi o feitor.
O patrão como não tinha herdeiros, deu a lavoura ao Sr. Ferreira, com a condição, de no mês de São Miguel, dar um carro de milho (quarenta alqueires), para distribuir por quarenta indigentes da freguesia do Rego, um alqueire de milho a cada um e quando ele morresse, mandar dizer uma missa pela sua alma, no dia da distribuição daquela esmola, os indigentes antes de ir receber aquela oferta, ir aquela missa por sua alma.
. O meu pai e os meus avós, recebiam um alqueire de milho, que o Sr. Ferreira nos dava.
Era o Sr. Abade, que tinha a
lista dos indigentes, que tinham direito e avisava na missa, o dia para os
indigentes ir receber a oferta.
Mas, a oferta que recebiam, ia direitinha para o Sr. Abade, para pagamento da congra. O Sr. Abade, conforme ia recebendo, aquelas rasas de milho dos indigentes, tinha a lista com o nome de todos e ia riscando o nome.
Aquele homem rico que deu aquela
lavoura ao caseiro e se lembrou de deixar aquela oferta para os quarenta
indigentes da freguesia do Rego, acabou por beneficiar o Sr. Abade José
Gomes Júnior. Os pobres que tanto precisavam daquele milhinho, não lhes tocava
nada, porque tinham que pagar a oferta ao Sr. Abade.
O Senhor Abade,
traumatizou-me em criança e a outras crianças da freguesia do Rego.
Aquele servo de Deus,
não gostava dos filhos dos pobres indigentes, só gostava dos filhos dos
lavradores e dos Senhores mandantes da freguesia do Rego.
Vou narrar, alguns
episódios que o Sr. Abade me fez em criança e que me marcaram para toda a minha
vida, porque via no Sr. Abade o próprio Deus.
Foi a educação que os
meus saudosos pais me deram. A mim e aos meus irmãos.
Aquele Abade,
continuou o seu sacerdócio, como no regime da Monarquia, para ele não havia
república. Todas as crianças quando o vissem, mesmo á distância, tinham
que lhe pedir a bênção e beijar a mão. Se por acaso se descuidassem daquele
dever, o Sr. Abade, chegava a beira da criança, puxava-lhe as orelhas, a
seguir dava-lhe um grande estalo na cara. E fazia queixa aos nossos pais,
por aquela falta de respeito!
Isso aconteceu-me por três
vezes. Não aconteceu mais, porque mudava de caminho, quando o avistava ao longe. Mas, quando
trocávamos o caminho, o Sr. Abade fazia queixa aos pais, por não lhe pedirmos a
bênção e beijar a mão. eramos castigados pelos pais, com umas gibatadas, por não termos ido ao encontro do sr, Abade, pedir a benção e beijar a mão.
Outra malandrice, que aquele servo de Deus me fez, deixou-me mesmo a chorar. Era mesmo muito mau. No tempo da colheita do milho, como os caminhos e quelhas eram cheios de covas, os carros ao trazerem os milhos dos campos, para os esfolhadouros, deixavam cair algumas espigas que se soltavam, elas ficavam nos caminhos, que tinham ligação com os campos.
Os pobres mandavam os filhos apanhar aquelas
espigas que ficavam nos caminhos.
A minha mãe mandava-me
dar uma volta por aqueles caminhos, onde passavam os carros, para apanhar aquelas
espigas, para ela fazer farinha, para fazer umas papinhas, ou até para dar
aquele milho ás galinhas.
Aconteceu, que quando o Sr. António
Sarilho, andava com os carros a carregar o milho dos campos do
sr. Abade, o citado Servo de Deus, andava sempre atrás dos carros do
caseiro, que vinham dos campos dele, para apanhar as espigas, que caíam do
carro do caseiro e dos outros carros dos lavradores que vinham doutros. campos.
Uma vez, o Sr. Abade
cruzou-se comigo, quando eu vinha de outro caminho e trazia os bolsos cheios de espigas. Ele
disse-me: dá-me essas espigas, que são dos meus campos, eu
respondi-lhe: são dos caminhos das veigas, não são dos seus campos,
ele tirou-me as espigas dos bolsos e deu-me um grande puxão de orelhas, por
não lhe dar as espigas.
Eu, de quinze em
quinze dias, ia pedir esmola a casa do Sr. Abade, e a Sra.,
Albertininha dava-me um grande naco de broa. Aquela broa era muito
boa, tinha mistura de centeio e restos de trigo da feitura das
hóstias. Quando chegava a casa, com aquele pedaço de broa, a minha mãe
partia ás fatias pequeninas e dividia por todos, dava uma fatia a cada um...
Em determinado dia,
que eu fui pedir a esmola á casa do Sr. Abade, a Sra. Albertininha,
como de costume, deu-me um pedaço de broa, quando me encaminhava para a
porta de saída, o Sr. Abade surgiu do passal e chamou por mim, eu
pedi-lhe a bênção como de costume e beijei-lhe a mão, o quinteiro da
residência, por cima tinha uma ramada cheia de cachos de uvas brancas. O Sr.
Abade apontou o dedo para aquelas uvas, que estavam maduras. Julguei que me
ia dar um cacho de uvas, mas o Sr. Abade não me deu nenhum cacho daquelas uvas.
Em vez de me dar o caxo de uvas, arranjou-me uma cilada.
Disse-me: “Ambrósio, quando
chegares a casa, tira três ou quatro batatas, que os teus pais têm lá em casa,
e escondido dos teus pais, traz-me as batatas, voltou a apontar para
o cacho de uvas, que eu te dou um cacho de uvas.”
Eu, fiquei todo contente e em quatro pulos cheguei a casa, sai da casa do Sr. Abade e num instantinho cheguei a nossa casa, entreguei
a esmola da broa a minha mãe, que começou logo a partir a broa para dividir
por todos.
Enquanto a minha mãe partia a broa, eu aninhei-me e de gatas, fui buscar as
batatas debaixo da cama, para levar ao Sr. Abade. A minha mãe apercebeu-se
que peguei em três batatas e meti nos bolsos, uma em cada bolso, e a
outra na coirada.
Isso chamou á atenção da minha mãe e perguntou-me, porque peguei naquelas
batatas e as escondi. Eu tive de dizer a verdade á minha mãe, do que se
estava a passar.
Disse-lhe, que o Sr. Abade me pediu para lhe levar três batatas, mas
escondido dos pais, que quando lhe desse as três batatas, dava um cacho de
uvas.
” A minha mãe, ficou muito espantada e disse: - Aí, o Sr. Abade quer das
nossas batatas! Agarrou na medida de carto,
encheu-a de batatas, e disse-me: Leva estas batatas ao Sr. Abade que ele tem
fome, é para se consolar das nossas batatas”.
Mas, falou com cara de poucos amigos. Estava mesmo
zangada.
Eu, é que não compreendi nada, do que se estava a passar. Só mais
tarde, é que o meu pai, me esclareceu aquela atitude do servo de Deus. Eu,
lá foi todo contente, como levava mais batatas, julguei que em vez de um cacho
de uvas, ia receber dois.
Quando cheguei a casa do Sr. Abade, abri a porta e encontrei o Sr. Abade, logo na entrada, sentado nas escadas que iam para a sala, quando me viu com o carto das batatas á cabeça, arregalou-me os olhos, parece que até deitavam fumo, mandou-me pousar o quarto das batatas nas escadas, e disse-me: “ Eu mandei-te trazer três batatas, escondido dos teus pais e tu vens com um quarto de batatas?” confessei-lhe a situação do que tinha acontecido, que tinha que fazer o que a minha mãe me mandou, em vez de lhe dar três batatas, dar-lhe uma medida de carto, cheio de batatas.
“O Sr. Abade fitou-me novamente! Disse: Não foi isso
que te mandei fazer
“ Puxou-me as duas orelhas e deu-me um grande estalo na cara, e mandou-me levar aquele carto daquelas batatas para casa e entregar á minha mãe.!” .
Em vez do cacho de uvas, o Sr. Abade puxou-me as orelhas deu-me uma grande
estalada, não quis as batatas, mandou-me trazer as batatas
para entregar aos meus pais. Quando contei á minha mãe, que o Sr. Abade me
tinha puxado as orelhas e batido, a minha mãe disse: “Ai, o filho da curta”,
era este o termo que as pessoas usavam em vez de dizer o palavrão, filho da
mulher da fruta. O Sr. Abade, já não gostava de mim, mas a partir
daquela data, ganhou-me mesmo asco.
Também, eu quando via, o Sr. Abade, Já não via Deus. Via outra figura.
Vinham-me á lembrança as palavras que o meu avô paterno dizia, quando se
embebedava na venda do Zédalem, e se sentava nas escadas do cruzeiro e virado
para a residência do SR, Abade José Gomes Júnior, gritava: “Padres e sapos, é
caçá-los e matá-los. (leiam, A Venda do Zédalem).
No fim do baptizado, os padrinhos ricos, davam uma croa a cada a um, ao sacristão, que tocava o sino, durante o baptismo, davam duas croas. A minha mãe andava sempre a descobrir, em que dia haviam batizados, porque aqueles tostõezinhos, davam para ir á venda do Zédalem comprar alguma coisa, embora em pequena porção, petróleo, macarrão, azeite, …A seguir ao triste episódio narrado atrás, como de costume, a minha mãe soube que ia haver um baptizado, mandou-me fazer o trabalho do costume naquele batizado, o Sr. Abade, quando me viu com a vela na mão de volta do menino que ia ser batizado, apontou o dedo para mim e disse ao padrinho,” Aquele malandro, ó Ambrósio, não dás nada, se lhe deres alguma coisa, eu levo-te dinheiro pelo batizado”.
Fiquei a saber, que o
Sr. Abade batizava de borla os filhos dos ricos, mas aos pobres levava dinheiro
pelos batizados. O padrinho no fim do batizado, deu dinheiro ao outro menino que segurava na
vela e ao sacristão que tocou o sino, a mim na presença do Sr. Abade
não me deu nada.
Mas, o padrinho, ao dar aos outros o
dinheiro, fez-me um sinal, e eu esperei por ele no caminho, fora da
igreja, onde não fosse visto pelo Sr. Abade, o padrinho deu-me o
dinheiro, até me deu mais um tostão, do que deu ao outro menino, nunca mais foi
assistir a nenhum. Baptizado, porque o Sr. Abade José Gomes
Júnior, até aquelas migalhas me tirou.
Os meus leitores, ao
lerem, “Memórias da freguesia do Rego”, podem pensar, que estas histórias, não
são reais, que era impossível um padre, tratar daquele jeito, as
crianças, mas meus caros leitores, estas memórias que estou a narrar,
são mesmo reais, leiam com atenção o caso seguinte que vou
narrar, felizmente ainda há gente viva, na freguesia do Rego, que
pode confirmar este triste comportamento, do sr. Abade José Gomes Júnior.
Naquela época, havia
missa todos os dias, mas ao domingo, era o dia, em que a igreja, ficava superlotada
e até ficava gente no adro, assistir á missa junto da porta principal.
Os pais levavam os
seus filhos de tenra idade, para assistir a missa, iam cedo, para
ficarem nos lugares perto do altar, com as suas crianças. Naquela data o Sr.
Abade dizia a missa virado para o sacrário, e as costas viradas para o povo, só
se virava para o povo, em determinadas vénias, com os braços abertos, num
gesto de bênção…
Aconteceu, que num domingo,
quando o Sr. Abade celebrava a missa, a dada altura, quando deixou de estar
virado para o altar e se virou para a assistência, para fazer uma daquelas
vénias, viu que uma criança que estava junto ao seu pai, Sr.
Manuel Joaquim Ferreira, virou a cara e olhou para traz, para a assistência...
O Sr. Abade, que
estava a fazer aquela vénia, desceu as escadas do altar, chegou a
beira do pai e da criança e deu uma grande bofetada na cara da criança e voltou
para o altar para continuar a missa.
O Sr. Manuel Joaquim
Ferreira, afagou o filhinho que estava a chorar e sobe as caleiras
do. Altar, chegou junto Sr. Abade, José Gomes Júnior e deu-lhe uma grande
bofetada na cara. Fez-lhe igual, como o Sr. Abade fez ao seu filho e voltou
para a beira do seu filhinho.
Alguns paroquianos,
rapidamente subiram as caleiras em direcção ao altar e socorreram o Sr. Abade
José Gomes Júnior, outros agarraram o pai da criança agredida, Sr. Manuel Joaquim
Ferreira e levaram-no para fora da igreja e disseram-lhe “Estás preso.
Vais ser condenado a pena pesada, pelo crime que fizeste”.
“Agrediste o Sr. Abade
em pleno sacerdócio, quando estava a dizer a missa.”
“Cometestes um crime
num lugar Sagrado. Agredistes um Servo de Deus”.
Entretanto, o regedor,
que por acaso era vizinho daquele pequeno lavrador, que agrediu o Sr.
Abade, morava no lugar do Rego junto ao poço do Pedro, e o Regedor morava mais
adiante um bocadinho, chamou o agressor, Sr. Manuel Joaquim Ferreira e
disse-lhe: “Vai pedir perdão ao Sr. Abade, por aquele crime que cometestes,
para ver se ele te perdoa.
Porque, se o Sr. Abade
não te perdoar, tens de ser preso e julgado em tribunal.
O pai do menino que
foi agredido pelo Sr. Abade, aceitou o conselho do Sr. Regedor e foi a casa do
Sr. Abade José Gomes Júnior, pedir-lhe perdão.
O Sr. Abade disse ao
agressor, que lhe perdoava, mas, nas seguintes condições:
“No próximo Domingo, na
hora da missa e a mesma hora que me agrediste, sobes as escadas e
vens ter comigo ao altar, ajoelhas-te e pedes-me perdão. Porque
foi a frente de toda aquela gente, que me agrediste e faltaste ao respeito e só
te perdoo se fizeres isso:”
O Sr. Manuel Joaquim
Ferreira, aceitou a proposta do Sr. Abade e no domingo seguinte, quando ele estava a
celebrar a missa, e chegou a mesma hora, que tinha cometido o crime,
subiu as caleiras até ao altar, ajoelhou-se e perante todos os paroquianos
que assistiam aquela celebração da missa, prostrado de joelhos, pediu
perdão ao Sr. Abade….
O Sr. Abade perdoou.
Mas passou-lhe uma reprimenda.
Durante o seu longo
sacerdócio, na freguesia do Rego, aquele Abade, batizou as crianças que
nasceram no Rego e algumas do meu tempo, seguiram os seus estudos
secundários. Alguns, foram frequentados em seminários, de onde se
ordenaram sacerdotes.
Houve um seminarista, João Crisóstomo, filho do lavrador Zézinho, da casa da fonte, do lugar do Rego, que não chegou a ordenar-se padre, devido ao seu pai, ter assassinado a tiro o lavrador Simão do lugar de Arbonça.
Isto era o que foi dito naquela altura, por gente que merecia toda a
credibilidade.
Que o lavrador, Zèzinho da fonte, do lugar do Rego, matou o lavrador Simão de Arbonça, disso não
tenho dúvidas nenhumas.
No caminho, onde o
lavrador Simão foi morto, como era costume naquela época, no sítio onde
matassem alguém, naquele local, era colocada uma cruz, de ferro ou pedra, para
relembrar aquele acontecimento.
Assim aconteceu com a
morte do lavrador Simão de Arbonça.
Aquela cruz de ferro
foi colocada, uns metros á frente do campo do senhor, do lado esquerdo, no
local onde o Simão foi morto.
Por isso se dizia, que
o filho do lavrador, Zèzinho da casa da Fonte, não foi ordenado, por o pai ter cometido
aquele crime.
Tive conhecimento, que
o filho Crisóstomo, saiu do Seminário, e seguiu outra carreira.
Alguns Párocos,
naturais da freguesia do Rego, felizmente ainda estão vivos, como o
Senhor Padre João Alves da Mota, o Sr. Padre Jesuíta, Domingos Monteiro da Costa,
e outros que devido a minha idade de 89 anos, não me lembro dos seus nomes,
Mas, todos os párocos
naturais da freguesia do Rego, com a exceção do Sr. Pároco Domingos
Monteiro da Costa, estiveram presentes, no cinquentenário de sacerdócio, do
saudoso Sr. Padre António Gomes Lima, na celebração naquela missa
realizada na freguesia do Rego, como podem reconhecer nas fotos, que publico
daquele evento.
Também esteve presente, o saudoso Sr. Cónego Fernando Teixeira Alves
Monteiro, nascido no lugar de Vilaboa, filho de José Alcídio Alves Monteiro,
durante o Seu Sacerdócio, esteve atento. aos problemas das pessoas mais
carenciadas.
Foi dos primeiros
Párocos a criar um Centro Social...
Todos os Padres naturais da freguesia do Rego,, prestaram e continuam a prestar um bom serviço , ás comunidades das Paróquias onde exercem o seu sacerdócio.
Pelas suas Obras, prestigiam as organizações onde estão inseridos e honram a freguesia do Rego, donde são naturais,
Lançamento de bombas na Residência Paroquial.
A P.I.D.E invadiu a freguesia do Rego e prendeu muitas pessoas.
No dia 10 de agosto de
1946, morreu o Sr. Abade José Gomes Júnior e deixou documento de última
vontade.
Com o seu óbito,
habilitaram-se á sua herança, os herdeiros que constavam no testamento, a senhora Albertininha
e a filha Júlia, como únicos e legítimos herdeiros.
Mas, o professor José
Gomes, filho do Sr., Abade José Gomes Júnior e da Senhora Albertininha, requereu a
sua paternalidade, que lhe foi reconhecida e habilitou-se também como
herdeiro legitimo.
A Senhora Albertininha,
mãe do professor José Gomes, sanou aquele problema da herança e fizeram as
partilhas entre os três herdeiros.
Entretanto, o Senhor Arcebispo de Braga, nomeou o padre Mário Xavier Rodrigues para paroquiar a freguesia do Rego, em substituição do citado falecido Abade. Quando o Padre Mário Xavier Rodrigues chegou á freguesia do Rego, para exercer o seu sacerdócio, a freguesia não tinha residência para o albergar, naquele momento, os paroquianos da freguesia do Rego, tiveram conhecimento que a residência e o passal não eram propriedade da paróquia.
Já tinha deixado de
o ser há trinta e seis anos.
Como a paróquia não
tinha residência paroquial, o novo pároco Padre Mário Xavier Rodrigues, foi albergado na Casa do
Vicente de Bolada. Naquela casa do lugar de Bolada, também ali tinham nascido e
vivido dois padres, o padre Francisco e o padre Manuel e suponho que um deles
também paroquiou a freguesia do Rego.
Como o padre Mário Xavier Rodrigues não tinha residência própria, para viver á sua vontade, sem promiscuidade com as sobrinhas, as criadas ou outras mulheres, como aliás era costume a vivência dos párocos nas aldeias.
Na casa do Vicente de Bolada não se sentia bem.
O lavrador
Russo da Tomada, fez obras no alpendre e criou ali as condições para nova
residência para o padre Mário Xavier Rodrigues.
Mas, a ambição do novo
pároco, era a antiga residência da paróquia. Para atingir o seu objetivo, começou
a incitar os paroquianos, para se revoltarem contra os herdeiros do citado
Abade José Gomes Júnior, para os obrigar a entregar a residência á paróquia.
Os habitantes da
freguesia do Rego, pobres ou ricos, naquela época eram todos muito tementes a
Deus, faziam o que o Sr. Abade mandava, começaram a ameaçar a Sra.
Albertininha e a filha Júlia, usando métodos soezes, de perfeita provocação.
O padre Mário Xavier Rodrigues não parava
de criar ódio, entre os herdeiros do falecido Padre e os paroquianos.
A dada altura, pela calada da noite, alguns
paroquianos, lançaram bombas na residência do antigo pároco José Gomes Júnior. Aquelas bombas abriram
um grande rombo no telhado da casa da Sra. Albertininha e dos filhos e causaram
prejuízos elevados.
Aqueles paroquianos, demoliram
o espigueiro, destruíram coisas de valor… A sra. Albertininha e a sua filha
Julinha, ficaram assustadas e trespassadas de medo, abandonaram a sua residência e foram viver para casa
do filho José Gomes, em Fafe.
Como aqueles crimes
atingiram determinadas proporções, entrou em acção a PIDE e a GNR, aqueles crimes,
eram do foro policial da GNR, mas aquele caso, foi entregue á PIDE,
conjugada pela GNR, e a autoridade local o regedor, que na altura era o
conhecido Lopes da Casa do Povo, por ele ter sido lá funcionário.
A PIDE, invadiu a freguesia do Rego, e efetuou muitas prisões, alguns eram vizinhos dos meus pais. Para transportar os presos, iam dois camiões, um da GNR e outro da PIDE, ficavam estacionados, no fim do lugar de Pedroso, junto á ponte.
Quase todos os dias, a
PIDE efetuava prisões na freguesia do Rego, em conformidade com as informações
locais, que recebia do Regedor Lopes e outros.
Os presos, antes de ir
para os camiões, eram levados para este prédio, para a casa do povo, onde a
PIDE fazia os primeiros interrogatórios, depois eram metidos naqueles camiões e
levados para as masmorras da PIDE na cidade do Porto, onde foram barbaramente
torturados.
Com as devidas vénias do Autor
Ao fim de várias semanas de tortura, houve um preso que não aguentou mais aquelas crueldades e confessou á PIDE quem tinha lançado as bombas e destruído o espigueiro… A PIDE a partir dali. ainda mais torturou os prisioneiros da freguesia do Rego, porque sabia, tudo o que se tinha passado e quem foram os autores que tomaram aquelas decisões. O Sr. Joaquim Lopes de Carvalho e o seu irmão, António Lopes de Carvalho, conhecidos no lugar de Vilaboa pelos “pocinhos”, e o antigo regedor Custódio, foram os mais sacrificados.
A PIDE não os deixou em paz,
enquanto não confessaram o crime que fizeram.
O crime que os meus
conterrâneos cometeram, não era um crime político, porque todos aqueles
prisioneiros, até eram salazaristas, aliás como ainda hoje, na freguesia do
Rego e noutras freguesias, há muitos saudosos daquele regime. Mas como o crime
que cometeram atingiu aquelas proporções, o Salazar, entregou aquele caso á
PIDE, para que os presos fossem tratados como prisioneiros políticos.
Como a PIDE, já
conhecia todas as ocorrências, sabia quem foram os seus autores, os prisioneiros
todos confessaram o crime e comprometeram-se perante a PIDE, a reparar os
prejuízos causadas na residência e no espigueiro da Sra. Albertininha e dos
filhos e deixarem os herdeiros em paz.
Não foram a julgamento. Foram soltos e
regressaram ás suas casas, mas os estragos causados na consciência daquelas
pessoas que foram presas, perduraram na memória daquela gente durante muito
tempo, alguns prisioneiros, homens honestos e sérios, a passagem pelas
masmorras da PIDE, deixaram sequelas, que alguns morreram pouco tempo depois, como
o caso do Sr. António dos Pocinhos.
O padre Mário Xavier Rodrigues, também
era chamado ao edifício da PIDE no Porto, quase todos os dias, para prestar
declarações. Mas, nunca foi preso nem julgado, embora na minha opinião, foi o
responsável por aquela desgraça que aconteceu aos meus conterrâneos que foram
presos. Porque em vez de apaziguar e resolver aquele assunto tão
melindroso, cada vez incendiava mais o povo para o levar a cometer aqueles
crimes, por isso, foi o responsável por aquela tragédia. Os herdeiros do
falecido Abade José Gomes, acabaram por se entender na cedência daquela
residência para o padre Mário Xavier Rodrigues. Desconheço aquele acordo.
Não sei, se acordaram
com os herdeiros, habitarem a residência até á morte do último herdeiro e
depois a residência, voltar a ser da freguesia, ou se a freguesia fez a compra,
com a condição dos herdeiros continuarem até á morte., Desconheço.
Com a devida vénia do Autor
Visito a aldeia a miúdo.Quando encontrava O Sr. Padre Lima, ficávamos os dois a conversar, a trocar impressões, de vários assuntos. O saudoso Padre Lima, conhecia muito bem os meus ideais. Mas respeitava-os. Por isso, o admirava muito. Era um Homem simples. De tarde, ia jogar a sueca para venda do Sr. Guedes, mas antes parava na venda do do Sr. Monteiro, e jogava duas ou três partidas de sueca.
Cheguei a jogar a sueca e as damas, na venda do dalém, com o Sr. Padre Lima.
Guardo muitas boas
recordações da cavaqueira que tínhamos, quando nos encontrávamos. PAZ Á SUA
ALMA.
A Igreja da Freguesia do Rego, enfeitada e superlotada de fieis, no dia, que o Senhor Padre António Gomes Lima, celebrou os seus 50 anos do seu sardócio.
Ambrõsio Lopes Vaz
O Padre Lima quando foi para a freguesia do Rego,continuou com a velha Ditadura,trazia um molho de chaves grandes no bolso,em partes de brincadeira dava com elas na cabeça das crianças da doutrina,e de vez em quando na doutrina também dava umas palmadas nas crianças dentro da igreja na hora da missa chegou a dar algumas bofetadas e puxões de orelhas em algumas crianças,era o pão daquela época,a lei do mais forte,eu também foi um dos que conheci o peso das chaves e das mãos dele,assim como outros mais conheceram porque ele nisso era bastante social!!!
ResponderEliminarCaro Anónimo, obrigado pela sua visita e pelo seu cmentárto. Respeito o seu comentário.É a sua opinião.
EliminarO Senhor Padre António Gomes de Lima, exerceu o seu sacerdócio na paróquia do Rego, durante 55 anos.
Eu não vivo na freguesia á 76 anos, mas no tempo dos meus pais, ia regularmente passar os fins de semana e as férias. Sempre que privei com o Senhor Padre Lima, tratou-me com muita cordialidade.Cordiais Saudações.
Ambrósio Vaz.
Bom dia agrada me muito e goatei da descricao deste post com tantos promenores e coisas tao verdadeiras
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EliminarAgradeço o seu comentário e a vizita ao meu blogue.
Ambrósio Lopes Va.