segunda-feira, 11 de outubro de 2021

 UM PREGUICEIRO COM HISTÓRIA

histórias reais


Este velho perguiçeiro, que é pertença dos herdeiros do Senhor Casimirinho da Venda,  Sr. Albano Alves de Araujo e Sra. Júlia Alves de Araujo, e que muito gentilmente me facultaram esta foto e outras, a quem fiquei muito grato.

Se este velho movel falasse muitas historias tinha para contar,porque passou por várias gerações, já vinha dos avós, dos herdeiros mencionados... 

Foi naquele preguiçeiro que esteve depositada, a minha Bisavó paterna, Rosa Pires,  mãe da minha avó paterna, Josefa Pires.

A minha bisavó, Rosa Pires, foi encontrada morta, no monte do lugar da Lameira, e foi transportada ás costas, pelas pessoas que a encontraram, até  casa de familiares do Sr. Casemirinho da Venda, que moravam no lugar de Pedroso. 

 Foi depositada  naquele preguiçeiro, onde lhe foi prestado o velório e daquele perguiçeiro , depois de ser realizada a cerimonia de corpo presente, saiu para a  igreja paroquial de São Bartolomeu do Rego, onde recebeu as cerimónias funebres e foi sepultada no adro da igreja. 

Naquela época ainda não havia cemitério na freguesia do Rego e  o actual  ainda demorou dezenas de anos, para ser construido. 


Uma triste memória da freguesia do Rego

Tristes acontecimentos, deixaram os habitantes da freguesia do Rego, em pânico e envergonhados, por ocorrências praticadas por dois moradores, também residentes na freguesia do Rego.

O povo da Freguesia do Rego foi sempre um povo muito trabalhador e honrado e naquela época 99,9%, eram cumpridores da Lei de Deus. 

 Mas, em todas as ações praticadas pelo ser humano, há excepções.

A freguesia do Rego. também não fugiu ao exclusivo das excepções, porque elas aconteceram.

Com efeito, dois moradores da freguesia do Rego cometeram crimes horrendos. Um morava no Calvário, lugar da Costinha, chamava-se “Mata Vacas”.


    Casa onde morava o “Mata Vacas”, e a esposa, foi vendida em leilão, pelo Tribunal da Comarca de Celorico de Basto.

Aquele salteador “mata vacas”, assaltava de noite e também, em pleno dia, as casas abastadas e roubava todos os objetos de oiro que encontrava e o próprio ouro que as mulheres, na altura do assalto usassem e agredia selvaticamente as pessoas que encontrava pela frente, com facadas e tiros, deixando-as, ás portas da morte, a ponto de algumas entregar mesmo a sua alma ao Criador.  

Os seus criminosos assaltos, normalmente eram feitos fora da freguesia.

O “Mata Vacas” era casado e tinha um filhinho de tenra idade, eram seus padrinhos o Sr. Bernardino da Tomada e sua esposa, moravam também no lugar da Costinha.

O “mata vacas “foi preso e condenado a pena máxima, de 25 anos de prisão, pelos crimes que cometeu.


                                                      Com a devida vénia do Autor
                                                                                                                                                                                                    
Na altura da sua prisão despediu-se do filhinho e da sua mulher.

A sua esposa, com a vergonha e o desgosto da prisão do marido e da sua miserável situação, ao fim de vários meses faleceu.

O filho daquele casal, foi entregue aos seus padrinhos de batismo, como determinavam as leis naquela época, Bernardino da Tomada e esposa, moradores no dito lugar da Costinha.

Aquela criança, entregue aos seus padrinhos de batismo, também passado um ano morreu. Com o falecimento daquele menino, findou a raiz daquela familia.

Os padrinhos daquele falecido menino, não tinham filhos, do seu matrimónio. No entanto, o Sr. Bernardino da Tomada, tinha um filho chamado José Avelino (foi meu companheiro de escola), das relações que teve em solteiro, com a Felismina, filha dos Tendeiros, moradores no lugar de Vila Boa e que o Sr. Bernardino nunca assumiu a paternidade, porque a lei naquela altura, não obrigava naquela situação, o pai a perfilhar o filho. 

As crianças naquela situação, passavam ao estado de filho de pai incógnito.

 Havia casos, que os filhos nasciam e viviam com os seus pais legítimos,com aquelas negras leis,em vigor no tempo da Ditadura ,eram considerados filhos de pais incógnitos, mesmo a viver com os seus  pais. Não tinham direito ao nome dos seus pais.

Os pais estavam proibidos de assumir a paternidade daqueles seus filhos.

Não fiquem admirados, porque naquela época a lei assim o determinava, 

  Os pais daqueles filhos odiavam aquela inqualificável lei.


          Antiga cadeia civil do Porto, onde estiveram presos os criminosos citados 

O outro individuo que também envergonhou e causou pânico, aos habitantes da freguesia do Rego e a outras freguesias, foi o Manuel Gonçalves, conhecido pelo “Moutas”, residente no lugar de Lobão, que cometeu crimes similares ao criminoso “Mata Vacas”.

Cito apenas, o crime tenebroso, que aquele Manuel Moutas cometeu.

Cerca das quinze horas da tarde, assaltou uma casa, nos Tremesinhos, no lugar de Soutelo, freguesia de Ribas e roubou todo o ouro que estava naquela casa e o oiro que avó e neta, usavam, na altura daquele assalto.

Depois de cometer aquele roubo, assassinou a avó e a neta a facada. Como a neta era muito jovem, com cerca de quinze anos, resistiu mais tempo as facadas e continuava a gritar, como a jovem não morreu logo, o assassino com medo de ser descoberto, pelos gritos da jovem, antes de abandonar a casa, tirou-lhe a língua para fora da boca e cortou-lha, para que ela não o pudesse denunciar. Foi um crime horrível.

Naquela época, nas aldeias, não havia rádios, nem jornais e a censura controlava toda a comunicação que existia. As notícias daqueles horrendos crimes, eram transmitidas de forma distorcida, para esconder do povo a realidade daqueles macabros acontecimentos.

Mas, aquelas tristes noticias, chegavam ao conhecimento das populações, de várias zonas do concelho, com a descrição tal e qual como o crime tinha ocorrido.

Aquelas dolorosas noticias eram transmitidas as populações, através de folhetos feitos em versos, descrevendo tal e qual o crime, como se tinha passado, cantados por ceguinhos, acompanhados de instrumentos de cordas. 

Aqueles panfletos que denunciavam aqueles crimes, eram vendidos as pessoas, á saída da missa, no adro das igrejas e pelo povo de várias localidades por donde passavam e nas feiras, onde normalmente se juntavam várias aglomerações de pessoas.

Aquele processo de transmitir as populações aqueles crimes macabros, pelos ceguinhos, não era usual só nas aldeias, também era usado pelos mesmos processos, nos centros urbanos, como eu tive ocasião de assistir a vários casos, na cidade do Porto e no concelho de Matosinhos, onde foi moço de lavoura.

O "Moutas" foi condenado a pena máxima, 25 anos.Foi encarcerado na cadeia de Celorico de Basto, de onde, ao fim dum ano, conseguiu serrar as grades de ferro, da cela onde estava preso e fugiu.Foi preso novamente, mas daquela vez, levado para uma prisão mais segura, onde se manteve até ao fim do cumprimento da pena a que foi condenado, 

Sempre houveram roubos e mortes, por dicussões de vária natureza, mas os crimes dos assaltos atrás citados, ultrapassaram  a quadrilha do celebre  ZÉ DO TELHADO, que (eventualmente também assaltou casas na freguesia do Rego) proibia a quadrilha que chefiava; de matar ou violar as pessoas que iam assaltar. 

Só o podiam fazer em sua legitima defesa.Não foi por acaso, que o celebre Zé do Telhado, puniu severamente o seu cunhado, conhecido na quadrilha, por Zé Pequeno.  , por ter cometido cimes de agreção e violação. O Zé do Telhado, roubava aos ricos, para dar aos pobres..,Foi degradado para Africa, onde acabou os seus dias... 

Ambrósio Lopes Vaz.

2 comentários:

  1. Excelente post efectuado por uma pessoa extremamente inteligente e com um coração grande. Que tem 89 anos mas fisicamente, devido as mazelas de vida mas com um espírito jovem e curioso parabéns

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    1. Cara Amiga Marisa,muito grato pela sua visita ás Memórias do Rego.É para mim muito agradavel,ver as jovens interessadas em conhecer o passado, para construir no presente uma vivencia melhor, mais solidaria e fraterna. Cordiais Saudações.

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